30.12.04

só porque sim

na televisão, dava a Rita Ferro Rodrigues à conversa com o Jorge Palma. Fiquei ali. Como se estivesse num café a assitir familiarmente à conversa entre dois amigos. Gosto demais do Jorge Palma, da simplicidade como encara a vida tão cheia de tudo. Gosto principalmente da maneira genial como a descreve. Como escreve a descrever os sentimentos essenciais. As coisas que mais doem contadas da maneira mais fácil. Gosto do só. das "duas almas em guerra", da realidade crua que as faz existir. do que doi e do que fica. gosto de ouvir repetidamente o cd ao vivo no villaret, de ouvir o Jorge contar histórias do filho, rio-me sempre na parte do "Vicente hoje agradecer ao registo civil não ter deixado que ele se chamasse Castor". O Jorge Palma é genial e assistir aquela conversa deu-me mais uma vez provas disso, só porque sim. Só porque o Jorge é simples e tão complexo nas palavras. (E ainda bem que existe gente assim.) Porque gosto de o ouvir e porque ficava naquele café e naquela conversa e naqueles amigos o resto da noite só a aprender as coisas mais simples da vida.

29.12.04

fim do dia



há uma hora em que tudo sabe bem. essa hora não é hora. é cor.
nós chamamos-lhe o fim do dia-
gosto muito desta hora que não é hora, e é cor.
cor do céu que dura em nós o tempo que quisermos.
a cor que viaja por todos os lugares, e não é hora e é cor. a hora dos dias grandes de verão, ou a hora dos dias fugazes de frio. tem a cor que dá cor às coisas, que se espalha e que faz a cidade acordar de um dia cansado, amarela, laranja, azul, amarela, amarela, cor. cor do céu e das coisas. paredes com a luz da cor da cor da hora que não é hora e é cor, fugaz, para sempre.

28.12.04

por vezes.

por vezes
(mas só por vezes)
consigo esquecer-me
que, a oriente
do oriente é sempre,
sempre, ocidente
(às vezes).

Alexandre monteiro

27.12.04

correntes




nós-presos
entrelaçados
em nós
(todos)
nós-presos-
correntes de nós-mundo.
no mundo- o mundo. fugaz.

26.12.04

paraíso ao contrário


...e eu aqui quentinha a escrever sobre a paz no meu natal.
Faz medo pensar na força da Natureza e das nossas coisas viradas contra nós de repente. Estar algures espraiado a descansar da vida sem mais nada e ter tudo e o mar vir com uma força estranha e levar-nos com ele, ou roubar-nos dos braços quem gostamos. nós: imóveis, impavidos, incapazes, pequenos. (e há sempre um português em qualquer lado do mundo.)
Pensar que é realidade e que aconteceu. Que são mais de 11 mil, os que já morreram.
Pensar que tudo é demasiado efémero para as nossas certezas pequeninas pequeninas serem certezas certezas. Medo dos paraísos que a Natureza nos deu e que amamos virados com força contra nós. Esmagando-nos. Tirando-nos a vida aos bocadinhos. nós: imóveis, impavidos, incapazes, pequenos.
Até nos matarem.

mais um.

o meu avô dá-me abraços apertados. costumo ficar demorada dentro deles, como se pudesse ser para sempre se fechar os olhos, como se dentro deles encontrassemos os dois aquilo que procuramos.
Estava a escrever um post e antes de o pôr no ar, andei por aí a ler os vizinhos: nomeadamente as coisas boas da té. Encontrei tantas parecenças em algumas coisas que dicidi não por o meu no ar: seria repetir palavras da mesma familia, reescreve-las, com a falta que não queria de algumas partes. Modifiquei-o.

A té chamou avó leoa à avó dela.
E se me perguntassem como é que foi este Natal para mim, foi a falta da minha "avó leoa". Não foi mais um Natal, como queríamos, foi diferente. Mil vezes a falta da minha avó. O silêncio da falta. Este Natal foi feito de nós a tentarmos fazê-lo igual ao que já foi. Teve alguns sons de sempre, alguns cheiros de sempre, perdidos entre bocadinhos de nós. O bacalhau de sempre. Os doces que fizemos e comprámos com vontade que ficassem iguais aos da avó. A minha avó fazia-os como ninguém. Eu sei. nunca gostei muito do sabor dos doces de Natal, mas sei que os melhores eram os da avó. Lembro-me da avó fazer doces especiais para os netos que gostavam pouco dos doces do Natal. Lembrava-se sempre de todos e dos gostos esquesitos de todos, adaptava as tradições a serem novas só para nós. Neste Natal, os sons ainda foram quentes, como dantes: a lenha a queimar contra a chuva fria la de fora. a casa embalou-se com a Norah Jones: do principio ao fim. Quando fecho os olhos, consigo ver o som do Natal e o cheiro dos reflexos da lareira nas coisas.
É engraçado porque também fiquei sentada no sofá, a ver passar as vidas com pressa. Com o meu avô do lado esquerdo, a tentar fazer-me lolós e a rir-se. (na nossa famlila, temos quase todos e sempre esta coisa dos lólós e chatear imenso os outros até as piadas estarem gastas. Faz-me lembrar algumas das coisas dos gatos- fedorentos que nos encheram a tarde do Natal de risos. ) E eu a rir-me tanto por dentro por estar ali com ele inteira e sermos só os dois. Os dois e o mundo com pressa. O meu avô a falar-me da minha avó e eu a ficar calada e a querer chorar saudades. Eu a tentar dizer palavras e elas a não sairem, a parecerem ridiculas demais para sairem. Eu a ficar calada e o meu avô a chorar. Eu a fazer festinhas ao meu avô e as lagrimas a serem fortes. As lagrimas, fortes fortes. O nosso silêncio. Eu a dizer: avô, não vamos pensar na falta. Acabamos sempre a chorar e as palavras a não existirem. vamos desligar-nos ca de dentro e ver o mundo lá fora de nós, temos sempre razões para rir: alguém que torpeça, alguém que diz disparates, alguém a cantar desafinado, alguém com vontade de abrir presentes, alguém com pressa sem razão. o meu tio e as suas piadas, sempre. o meu irmão a dar presentes à minha mãe, que são para ele. os gatos fedorentos ou os programas de "humor" à portuguesa para os mais idosos.... alguém com vontade de rir na ternura, como nós.
Não vou falar muito da parte dos presentes, não interessa. mesmo que os meus pais tenham sido uns queridos e que eu fique sem palavras só de pensar no esforço que fazem para me dar aquilo que o meu curso infelizmente quase me obriga a precisar.
O importante neste Natal, mais um Natal, foi a parte de ficar, ficar, demorar com a familia. dar abraços e ficar, aproveitar tudo e todos e espremer bem as emoções. Rirmo-nos de nós e das nossas coisas tão nossas. Desligar o telemovel por dias. desligarmo-nos por dias que foram curtos em nós.

definição I

saudade:
lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou a possuir;
pesar pela ausência de alguém que nos é querido;
nostalgia.

25.12.04

mahnahmahnah



encontrei por ai, sempre-" mahnahmahnah "- que bom, que saudades...:)

24.12.04

rabanadas e presentinhos

ando desinspirada.
Acho que a culpa é do espirito natalicio (:compras, compras, compras) ...
Desejo um optimo natal, cheio de rabanadas e presentinhos a todo o mundo!
Prometo, (a quem me gostar de ler...) que vou voltar em força nos meus devaneios, logo que passar esta fase das correrias entre centros comerciais e familia....


P.S.- um grande beijinho de parabéns à Mafalda Veiga, como diz "o meu amigo" Granger: a minha ídola!!

21.12.04

coisas felizes

entre amigo e amigo
jamais se afastam
coisas tão felizes
os instantâneos silêncios de certas formas
os protestos inocentes à nossa passagem
a natureza fortuita, dizia eu
imortal, dizias tu do vento?


Baldios, José Tolentino Mendonça



fotografia pedro gabriel montemor-o-novo' 2004

20.12.04

amelie




há imagens que nos trazem lembranças,
esta traz-me, das boas.
leva-me para um lugar onde eu existia pequenina e onde havia brincadeiras que eram tudo o que era importante.
Gosto deste filme.
E ver esta imagem é levar-me para dentro dele e encontrar as partes boas da vida. A amelie sabe as cores certas dos dias felizes.

desenho-te

Vejo na luz que agora é tua o desenho da perfeição que te contorna o corpo e te torna dela. Deixa-me ser eu a desenhar-te. O quarto tem cores escuras quentes, mas até podia não ter: a luz que lhe bate inclinada e caída é quente como o sol, é quente como o quarto quente das paredes quentes. Vejo-te na cama, deitado e perfeito, e desenho-te na luz quente do quarto quente. Desenho-te os contornos teus e meus, as linhas que te fazem existir perfeito. Desenho-te. És perfeito. A cama está usada, mas fica bem assim. O quarto é quente de paredes gastas, a janela é janela e é perfeita, deixa entrar a vida, a luz intacta: o tempo parou enquanto passou por nós, sentiste? amarelo e quente. No espaço que nos separa forte, olhas-me enquanto te ajeitas a ti mesmo, nesse olhar tens tudo e o desenho é nada. és tudo. perfeito como a linha que te desenha a imperfeição.

19.12.04

na noite de todos os anos

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembrarmos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.


David Mourão-Ferreira

18.12.04

Fomos

Seguimos sem medo. No fundo no fundo, estavamos cheios cheiinhos dele, mas insistíamos em dizer que não, que a vida é boa :não há que ter medo. Havia uma estrada escura e pressa. Havia pressa que ainda não era pressa de chegar porque ainda faltava uma pessoa connosco e essa pessoa era importante no medo onde nos dirigiamos. seguiamos sem medo. já iamos cheios e já tínhamos pressa de chegar. É bom quando nos dirigimos com pressa ao medo que queremos viver. A pessoa importante fazia falta no sitio onde éramos esperados. Levar uma pessoa connosco que é importante e que faz falta aos outros, traz-nos alguma importância, impessoal. Rasgámos a estrada, como se rasga uma estrada com pressa, as imagens de todos os dias a serem mais rápiadas agora, imagens a passar rápidas, a passar. O som a passar rápido. Como o flecha. Havia uma pessoa importante connosco. Isso tirava-nos uma parte do medo, multiplicava outra. No fundo, nunca tive medo. sempre soube que uma parte de mim era controlada por mim mesma. sempre soube que perto dessa parte de mim, havia espaço para onde me dirigia, à espera de ser preenchido, tinha de o ser e começava agora. nunca percebemos bem a razão do medo existir. chegámos e deixou de ser importante termos chegado atrasados. Deixámos de existir por bocadinhos.

Fomos onde o medo existia, corajosos. E afinal o espaço era já nosso, não o invadíamos como não dizíamos e sentíamos. Passámos a ser imagem de outras terras, de outras gentes. Ouvimos intactos memórias de outros, memórias que eram também nossas, dos sonhos mais sonhos. E os outros deixaram de ser outros para serem pessoas perto e perto. A pessoa importante, largou a importância à porta e lá dentro, fomos os mesmos que os outros. Lá dentro, dentro de uma sala que é sempre uma sala de aulas e não era ali. Era agora uma sala no meio de moçambique. Uma sala com cheiro a terra seca. as janelas, essas fazíam-nos lembrar as janelas de campos dos nossos, cheias da terra virgem onde o homem não tocou. E nós. Nós dentro das histórias que vêm dentro dos outros e ficam dentro bem dentro de nós, onde já existiam sem existirem. Quem falava, falava só com as emoções. não faltou nada. não, não faltou nada. Dentro dos nossos sonhos, havia lugar para viver assim, um ano assim. (O que mais me motiva são as gentes, os olhares de gentes sem nada e com tudo, gentes e gentes. sorrisos a serem sorrisos sinceros e podermos fazer melhor a alguem do que a nós mesmos.). Gostei de fechar os olhos e ficar a ouvir o testemunho. Gostei de partir daquela sala e mesmo dentro dela, ficar longe. so a ouvir existir. Já não havia medo, porque o medo já não tinha espaço para ser grande. Um dia, se chegar a algum lugar que não existe e for só eu sem coisas, e se chegar a torna-lo meu por instantes, vou querer dar tudo porque nesse dia não vou ter nada e sei que nesse dia vou ter um dia feliz. Ouvia dizerem que a vida lá é cheia de tudo o que não é material, ouvia contarem estorias de quando as pessoas não falam a mesma lingua e não precisam falar: trocam ervilhas por bolachas a sorrirem e isso já é a amizade que existe a existir. Ouvia o Natal no verão quente de chão quente e pessoas descalças, ouvia a vontade de enfeitar a vida como nas memórias que temos fundo de sempre, de um Natal dos nossos. Ouvia segredos de quem vive a dois, num amor que rebenta pelas costuras. cheios de cumplicidades a dois naquelas historias de terras perdidas. Ouvia falar de crianças caladas, obdiêntes, com medo do que vinha de gentes novas e tão diferentes. de crianças que sabiam o que é importante na vida porque não conheciam o outro lado. e da felicidade de umas pipocas existirer na vida delas. Sentía que ia um bocadinho mais além daquelas palavras. Acho que viajei por uns instantes, ninguém reparou que não estive la. Sentía-nos a todos iguais e isso levou o medo que existia. Sentía-nos de olhos fechados a ouvir a vida a ser, o que tinha sido, de novo. Comovidos. Senti que gostava de também eu escrever diários de dias assim. Ouvia estórias que queriam à força levar-me com elas, queriam à força existir dentro de mim. eram as estorias dos outros. E talvez seja esse o maior medo: sentir-nos capazes de também nós fazermos historias da mesma maneira que se fez ali, sem pressa. historias de vida. como estas que nos tocam assim, sem pedir licença. Não descobrimos a razão do medo existir. A pressa de chegar fez algum sentido no fim, soubessemos nós o quanto é fácil voar para estes lugares antes, e tínhamos rasgado o medo com mais pressa ainda. A pessoa importante sabía-o bem. Sabe bem o quanto é bom partilharmo-nos desta maneira. Sempre soube e eu nunca tinha reparado. Talvez por isso a sua facilidade em nos convencer do obvio, que é obvio: venham, vão ver que vai ser bom. Tens o espirito asul. Nao sei o que é o espirito asul, não sabíamos. se for parecido com um bocadinho do que senti para onde fui naquela sala, quero ir mais vezes, sem medos. e aprender o caminho do outro lado, o lado que me vai fazer contar as historias um dia. A estrada fez-se rápida onde já não havia pressa de chegar. Acho que fomos invadidos por uma pressa diferente: de viver. às vezes são precisos momentos destes, para voltar a ter a pressa que nos faz na nossa história, nestes lugares.




fotografia margarida delgado moçambique

17.12.04

o esforço e o esforço do esforço

Hoje não dormi o sono de ontem. estou muito cansada, muito. é estranho passar uma noite mais rapida que ela mesma. Esta noite, nem a vi. quando olhei pela janela ja era dia e já era hora. voou e nem a vi. como se não a vivesse. como se estivesse agora em falta com a noite. em divida. faltou qualquer coisa importante, qual ritual de boa noite. ficou a faltar o sono. o sono que agora chama devagarinho do quarto e da cama no quarto. o sono, como um amigo amigo, sempre presente. mas valeu a pena. todo o esforço quando é esforço e é esforço esforço vale a pena. Valeu. Nisso, não posso deixar de concordar com um dos mais fortes ideais budistas: Toda a reacção vem da acção (da nossa). É simples e do mais certo que há. "somos o fruto das nossas sementes."
Vou dormir, outra vez. (Tenho escrito sempre antes de ir dormir, será que me alguém me acha a maior dorminhoca?? sou um bocadinho.) isto dos projectos não nos dá folgas. entrego-me sempre àqueles momentos antes de ir dormir para escrever, acho-os num tempo certo, encontro-os por aí. Aqui vou eu. Até logo, até amanha, "boa noite".

Hoje sou o que o mundo quiser.



Estreio-me nas fotografias com os trocadilhos "simples" da adriana calcanhotto.

16.12.04

(re)inventarmo-nos

Aqueles que sonham de dia conhecem muitas coisas
que escapam àqueles que só sonham de noite.

Edgar Allan Poe

Natal dos hospitais

Acho que foi a primeira vez que vi 5 minutos do Natal dos Hospitais. Pelo contrário do que possa parecer, não tenho nada contra os senhores que estão ali a sofrer com todo o tipo de doenças. no ano passado estive em s.josé enquanto dava este programa, lembro-me perfeitamente. a minha avó não tinha paciência para estes programas, eu ria-me com ela nas nossas cumplicidades, não precisava dizer nada para eu ser a certeza de que a vida dela estava era cá fora. as colegas de quarto era só o que queriam ver, havia para lá uma luta... Lá descobri porque é que o programa se mantém de ano para ano. Acho que para quem está deitado numa cama de hospital durante muito tempo, qualquer animação diferente é boa.
Mas, porquê é que o natal dos hospitais é sempre tãããão deprimente, tãããão mal apresentado, tãããão feio em cenários, tãããão pouco apelativo e com taaaantos convidados que não interessam nem ao menino??!
Este ano houve uma excepção, os quadrilha. Aprendi a gostar de alguma maneira. E confesso que estes 5 minutos que vi pela primeira vez na vida, tiveram um culpado, chamado Bento. O Bento é pequenino, quase se esconde atrás da sua bateria. Mas consegui vê-lo. Pequenino e cheio de vontade. Valente. Atrás do seu sonho. O Bento. Dei-lhe um tempo meu e sei que estou agora menos em divida, as saudades ficaram um bocadinho mais pequenas.

azul

Amanha quero ter tempo para os outros, mais do que hoje, bem mais do que hoje. E tempo para escrever. Só trabalhos, e meus. Cansa.
vai-me saber tão bem dormir hoje. Estou cansada e não gosto de me deitar cansada sem ter conseguido acabar o trabalho que me cansou. A noite ja se apagou. há uma luz que entra pela janela, já natural, e que me diz que estou fora de horas, completamente fora de horas. Gosto de me deitar quando os outros acordam, gosto. De viver ao contrario- do mundo. De pensar nas pessoas que como eu invadem a madrugada, são silêncio, e gostam. Gosto tanto do amanhecer, das cores do amanhecer. Daquele azul que não é dia nem é noite e é as duas coisas- azul azul. Dos sons do amanhecer. E dos silêncios misturados entre eles em coro. Já me esqueci do cansaço. Azul. Vou sonhar azul azul.

15.12.04

Sabia de cor

Era noite. Aquele som entrava seguro a combater o que era frágil. Sabia-o de cor. Sabia de cor os acordes que eram dele e só dele, cada curva dos lugares que o faziam. O chão por onde me levava. Aquele som entrava seguro e a combater. Tornou-se dono de um espaço e alterou-o. Alterou as memórias que pairavam no ar desse espaço cheio de ar e som. O som, aquele. Entrou e adormeceu-me, como pózinhos mágicos. Não sei bem para onde fui, mas adormeci no som daquele som que me levou para dentro dele próprio. Pensei que o sabia de cor. Até conhecer as entrelinhas daquilo que o faz existir, a cada tempo. Era um lugar mágico, e talvez por isso, a memória não se quer lembrar, para não estragar. Andei por la a noite toda.

arquitectura

hoje prometi a um colega meu (pedro, é contigo.) que um dia ia falar aqui de arquitectura, para que ele não se sentisse tão "invasor" de assuntos que não conhece. Mas não vou falar de arquitectura. não me atrevo. e não sei falar de arquitectura. vou só dizer que há dias como hoje em que gosto mais de arquitectura do que outros. gosto da arquitectura escultórica, se é que ela existe. Gosto de espaços e de criar espaços quando eles ficam giros. Gosto de criar luz e luz e luz a bater na luz que bate na luz e nos planos e no vazio e nos buracos, gosto quando a luz passa a correr sem ser vista. odeio quando corre mal. detesto arquitectura quando corre mal. adoro ver os projectos dos outros, criticar, dar opiniões, sugestões. Para o meu, não. nada disso. Gosto, como hoje, quando as coisas até correm bem. Amanhã, possivelmente, se a minha professora me enviar o trabalho para as origens outra vez, vou vir desfeita em caquinhos partidos e vou chorar e vou pensar o que é que eu ainda estou a fazer neste curso, vou pensar que a minha vida não está no caminho certo, que estou a perder tempo, enfim, um drama, uma tragédia. (um horror)digna de uma noticia importante na TVi. Se, pelo contrario, a professora me disser maravilhas do projecto (sonha Pipa...) eu vou sentir pela primeira vez que não estou a gastar trezentos euros por mês (nem me atrevo a fazer as contas ao ano...) em vão. Por falar em vão: Fiquei a saber este ano que os engenheiros chamam vão ao espaço que vai de um pilar a outro. interessante, não é? é por estas e por outras que eu não falo de arquitectura no meu blog. nunca.

14.12.04

Esquadros

Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome dos meninos que têm fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde
Transito entre dois lados, de um lado
Eu gosto de opostos
Expondo meu modo, me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado


Adriana Calcanhotto

já passou.

Hoje, estive triste. Já passou. Quando estou triste lembro-me da minha mãe. sempre. das mãos da minha mãe na minha cabeça, desse movimento que sei de cor e me traz todas as certezas como se nada de mais certo existisse para além daquele gesto. desde sempre. um dia vou querer escrever aqui sobre essa coisa de ser filha. Hoje, quando vi a minha mãe, não precisei falar para que ela repetisse o gesto mais uma vez. em mim, num espaço curto que somos nós. não foram precisas palavras. nunca são. e no momento daquele gesto, nada mais fica. gostava de o ter para sempre.

13.12.04

"Por Ser Preciso"

Gostava de falar um bocadinho de uma pessoa extraordinária que conheci há pouco tempo. De quem fiquei amiga. Penso que quando somos surpreendidos pelo acaso, a vida torna as coisas mais mágicas, mais verdadeiras, mais sinceras, mais frágeis. foi assim com o Jorge Reis-Sá . Conhecemo-nos antes de nos conhecermos. Hoje conheço-o um bocadinho e gosto. É um amigo novo e é um bom amigo. É um amigo do futuro, baseado, quase só, em conversas virtuais. É optima pessoa. E o principal: é dos que sentem. O Jorge ofereceu-me um livrinho dele, com um titulo baseado numa música da Mafalda, o livro chama-se "Por ser Preciso". Penso que nenhuma hora de messenger nem de cafés nem de lançamentos de livros me trouxe mais Jorge do que este livro. foi óptimo lê-lo. lembrou-me em partes a essência do "morreste-me". Pensei, que a vida é esquesita em fazer ela própria livros nossos tão parecidos. E foi bom sentir o sentir de um livrinho, tão pequenino e tão cheio de tudo. tão forte. O Jorge é mais uma das boas pessoas que a Mafalda trouxe à minha vida. "Só" por isso, estou, à Mafalda, eternamente grata.

Enquanto o sonho existir

Saiu à rua indiferente
Seguiu pra longe
Longe do olhar de toda a gente
Na luz intacta da madrugada
Seguiu sem norte e sem estrada
Descalça na terra molhada

Despiu o corpo e o pensamento
Seguiu o vento
Esqueceu a mágoa de acabar
E o tempo perdeu-se do tempo
E o chão raso fez-se mar
No mundo que somos por dentro

Por todo este mundo
Enquanto o sonho existir
E nos levar até ao fim
De tudo o que há pra sentir

Seguiu o rasto do calor
Na areia quente
O sol doía como fogo
Incendiou a cor do dia
Levou no corpo a ventania
E um beijo roubado do amor

Por todo este mundo
Enquanto o sonho existir
E nos levar até ao fim
De tudo o que há pra sentir


"Por todo este mundo"
Mafalda Veiga

...boa noite

Tenho sono. Vou dormir. Desejo um bom dia a toda a gente que vir o blog de manha.
Amanha vai ser um dia cheio, mais um... Diferente dos outros numa coisa especial. Lançamento do primeiro DVD da Mafalda. ;) Vou tentar compra-lo logo que puder, roubar o carro ao meu pai, inventar umas horas de um tempo meu e curti-lo. como merece. Vai ser bom. Vou amar, já o sei. um dos nossos sonhos, em mãos. Gostava de estar com "nós" e dar abraços e comemorar. Mas mesmo que não esteja, estou. ate amanha.


12.12.04

tempo que é tempo

Quem nos inventou o tempo, pensou em tudo.
Só nos dá a percepção do que perdemos
quando já não há mesmo maneira de o
recuperar.
Entendêssemos nós isto mais cedo
e seria um pandemónio...
podíamos desatar para aí a viver felizes...

Rodrigo Guedes de Carvalho
in "Os pés no arame"


Não li este livro. Mas li este excerto numa blogosfera qualquer e guardei. Gosto muito. E hoje o tempo é escasso....

Um dia (...)

Um dia quando a ternura for a única regra da manhã

um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela.
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for
tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada
de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da
nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso
será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o príncipio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade.


José Luís Peixoto, in "A Criança Em Ruínas"

11.12.04

encontros e desencontros

ontem falava com a jana sobre encontros e desencontros. (fiquei a pensar na nossa conversa, jana!)
chegamos a uma idade em que começamos a ser perseguidos pela nossa falta de tempo. nessa altura, começamos a ter a dificil tarefa de fazer escolhas. fazer escolhas. escolhas de tempo. escolhas de caminhos. escolhas, inconsciêntes, de amigos. nessas escolhas, há quem fique para traz. há quem fique ao lado. há quem se desencontre para depois se encontrar.
gosto de pensar, sempre pensei assim, que todos os encontros que tenho, todas as pessoas que passam pela minha vida, se passam, é porque têm alguma coisa para trocar comigo. dar e receber. guardo de todos os amigos que ja tive, que ja passaram pela minha vida, recordações: coisas que aprendi, gestos, palavras, expressões, tiques, vicios, vozes e risos. guardo aquelas pequeninas coisas que nos apaixonam. e há os que vão passando entre promessas de mais um encontro que não vai existir. desencontro. e doi. mas a vida a vida é feita destas coisas. fica a saudade, e fica a certeza de que não podia ter sido de outra maneira. como a jana me disse, sabe muito bem, nestes casos, voltar a encontrar quem ja se desencontrou.
Há também os amigos de sempre. diferentes. os amigos de sempre são os amigos que ficam de certeza em todas as certezas e em todos os tempos. mesmo que os tempos nos façam pensar que até podemos estar em desencontro. os amigos de sempre são segurança e força. conhecem-se como a palma das suas mãos. tenho o previlégio de ter alguns bons amigos de sempre. aqui da minha terrinha. algumas amigas que são para sempre. temos historia em nós. e cumplicidades que conhecemos quase melhor que a nós mesmas. temos coisas de miudas e rebeldias que hoje são de rir. temos vontades, hoje diferentes. sempre acreditei que os amigos de sempre não se desencontram para sempre. há uma essência diferente. tenho uma amiga de sempre que adoro. amo. é uma amiga que eu sei que vai ser para sempre. tenho desde a nossa altura de maior cumplicidade o nome dela no meu telemovel como "Best Friend" (coisas de miudas!!). e será impensavel para mim muda-lo, será impensavel para mim deixar de acreditar que é para sempre. mesmo que hoje nos vejamos tão pouco, mesmo que os caminhos teimem em ser diferentes, mesmo que as promessas de cafés se arrastem entre tempos desencontrados.
Pensar que nem os amigos de sempre duram para sempre é a parte que mais custa. o durar para sempre é uma certeza que temos quando vivemos no meio do tempo que acontece. como as paixões. para sempre é sempre pouco. mesmo as grandes amizades precisam de viver, de se alimentar, de dormir e de respirar. precisam que o tempo passe por elas e deixe marcas.
encontros e desencontros de nós com os outros e de nós com quem somos nós próprios, são sempre momentos e lugares que guardamos. tudo o que passa fica, pelo menos, intacto na memória.

entao vá, upa!

tenho andado assim com a mania que sou poeta, inspiradota! coisas de artista! hoje não estou artista. e ter um blog é fantastico por isso, é nosso, podemos fazer o que quisermos sem ninguém nos chatear. quem manda aqui sou eu! :)
não gosto de resmungar, mas este mundo está perdido!! costumo ver o extase ao sabado na sic, por uma questão de horário e porque, normalmente fazem-me rir, aqueles cachopos!! gosto do ar sério da joana cruz a dizer as maiores babuseiras ou a gozar com as pessoas mais sérias. mas também acontece aparecerem as pessoas mais estranhas, aquelas que nos dão a certeza que este mundo está mesmo perdido! passou agora uma rapariga com umas asas de borboleta nas costas. a joana cruz perguntava-lhe, "para que é que servem essas asas?" ao qual ela respondeu- "para voar!" joana, com cara séria-"então vá, upa!"
upa é magnificoo! é daquelas expressões que fazem parte desde sempre e não sabemos muito bem de onde vêm! faz lembrar.... nem sei bem o quê! (pois é, hoje não estou inspirada! :))

"coisas boas"

A casa da té tem o barulho dos passos apressados do tobias. gosto tanto da casa da té! Tem cheiro a abraço e sabor a amizade. tem chocolate quente e música. Normalmente, quando lá vou, tem-nos a nós. deitados no chão, arrastados das vidas, cansados, e felizes. conseguimos deixar penduradas na porta as coisas do dia, da vida. a casa da té tem música. tem paz. tem o movimento de lisboa, ali ao lado. e tem paz. é um lugar dos nossos, e chegar a casa da té é chegar a casa. vinho e cervejas, viola. A casa da té tem uma luz só dela, tem uma cor só dela. o quarto da té é chão. são os passos de cada um nas histórias de si mesmos. são as caras conhecidas espalhadas em fotografias espalhadas pelo chão do quarto da té. Há sempre alguém para chegar na casa da té. e um café à espera. há sempre um abraço apertado. Gosto tanto quando a maria canta aquelas coisas esquesitas da prima bi. não há vizinhos de baixo. o barulho é o reflexo de nós, sempre com dias diferentes. a janica tem uma coisa fabulosa, consegue ter piada nas situações mais obvias, adoro isso. adoro as expressões que ela usa até se gastarem, estamos na fase da "burra! burra! burra!", e adoro. adoro ouvi-las ali. dentro do nosso calor. quando nos rimos das coisas mais parvas como se tivessem a maior piada! gosto de nós por lá, no chão e em qualquer lugar. de vos olhar e pensar que cada um são alguns pedacinhos de mim. (os outros estão noutros lugares!) levamos sempre connosco as coisas boas uns dos outros. a porta devolve-nos a vida lá de fora, o frio, os trabalhos. mesmo assim, não se sai como se entra. levamos uma paz diferente, levamo-nos a nós diferentes e a mais histórias, músicas, combinações, abraços, "coisas boas".

10.12.04

tomás

Será que a Mafalda me vai ouvir??
Mafalda, se me estiveres a ouvir,

P A R A B É N S ao Tomás.

Dá-lhe um beijinho meu. estou a tratar de um presente para lhe dar. ele é especial. pode ser que tenha a ver com o facto de ser teu filho.... :)

entregou-se

há um barulho que as coisas fazem a observar-nos dentro do escuro do silêncio da noite. ela quebrou-o. ouvia repetidamente a música que mais gostava da ella fitzgerald, uma versão em dueto com louis armstrong de "dream a little dream of me"...
(não percebo nada de música, esta é das boas não é?)
Tem aquela parte que ela gosta e sabe que gosta, de a transportar. gosta de ser transportada assim, a meio da noite, enquanto rouba ao silêncio uns segundos de sonhos. foi levada para outra historia, outro tempo, outro lugar. viajavam por ela tons escuros e fumo. os mesmos que tocava com os dedos trémulos nas paredes da casa onde chegava. via encarnado. preto. castanho. castanhos. sentia o calor das vidas que a enchiam por dentro. entravam-lhe na pele os sons do calor das vidas que a enchiam por dentro. os sons que a dominavam, harmónicos. serenos. doces. boémios. os sons do passado que não viveu, que não ouviu. entregou-se. enquanto tocava nas paredes trémulas, sentia calor. desceu as escadas. a música. lá em baixo, um olhar. os sons. olhares. o calor na pele a queimar por dentro de vontade, fumo. cada passo produzia medo. sentou-se mulher. fumou. estava no som, na música, estava por dentro dos acordes que estavam por dentro das vozes, doces e doces, por dentro do lugar que ela criou, por dentro da música, dentro e dentro, fundo.
acordou de novo no silêncio cumplice da noite. trocou um ultimo olhar com as coisas do silêncio. dormiu.

9.12.04

lembrei-me da aquarela!

Aquarela

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Com o lápis em torno da mão imito uma luva
E se faço chover com dois riscos tem um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cair num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando, contornando a imensa curva norte-sul
Vou com ela, viajando Havaí, Pequim, Instanbul
Pinto um barco a vela branco navegando é tanto céu e mar num beijo azul

Entre as nuvens, vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta, colorindo com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo serendo e lindo e se a gente quiser
Ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América à outra eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço um mundo

Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda a nossa vida
E depois com vida ___ ou chorar

Nessa estrada, não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe ao certo onde vai dar

Vamos todos juntos numa passarela de uma aquarela
Que um dia enfim descolorirá


Toquinho e Vinícius de Morais

infância ameaçada

Se tivesse já descoberto como é que se põe fotografias num blog, este post seria só uma fotografia. escolhia o sorriso de uma criança. um qualquer. as crianças têm a essência do que é puro, não há sorriso que não traga estampado o sentimento.
Hoje foi lançado um novo relatório da Unicef, mais uma vez assustador. é nestes momentos que penso no meu egoísmo quando os meus problemas se põe à frente destas causas. não há morte mais triste do que a de uma criança. (e à fome?!) todos os dias morrem millhares de crianças no mundo-assim. saber disto é um começo. o resto vem de cada um. e eu gostava tanto de poder ajudar. Hoje apetecia-me, só, estar lá a dar-lhes colo. aos que estão sozinhos e com frio, com fome, entre guerras. as guerras que nem eles, nem nós, sabemos o porquê de existirem.

“... to me, a world fit for children is when everyone begins to find the child in them. I am a child...everyone has definitely been children before... a child sees no colour, race or religion! … if the world was like a child... that world would definitely be a wonderful place to live, a place fit for all humanity to live!!...” girl, 16, Malaysia http://www.unicef.org/sowc05/english/index.html

"Don't Worry, Be Happy!"

Bem... que bom ter visitas!... estava tão reticente em partilhar este blog. (experimentem só fazer um, é um vicio!) Maggs, as tuas palavras são a essência, sempre e sempre. Joao e Té, um must! Obrigadinha. Cheguei agora de um jantar animado de familia. entre as partes que vou guardando na memória de sempre, ultimamente tenho tirado "fotografias" de quase todos os momentos com o meu avô. Razões obvias. Parece que nele se duplicou qualquer coisa. incluindo a fragilidade. são doces as fotografias, tons neutros, com cheiros de abraços fraternos. No carro, quando iamos para o jantar, tocava uma música que me fez pensar (a não pensar), que tudo ficará bem... "Listen to what I say in your life inspect some trouble When you worry you make it double (...)"

8.12.04

dias

Têm sido assim os meus dias. Nem os vejo passar. Há dias que passam a correr pelos dias. Há dias que passam a correr pelas horas. Há horas em que os minutos são os segundos que correm sem parar para descansar. Há também os segundos que param, em mim. Que ficam meus. Há o tempo que é meu. que não tenho tido. Faz pensar pouco viver com os segundos a correrem, mais rápidos do que o tempo... E pensar pouco é bom! Nestes dias que correm, pensar pouco é bom...

Mifá

Há um lugar onde esta música me leva. Chama-se estrada. Algures entre Lisboa e Braga. mais do que um lugar, leva-me a cores e a gentes. (As minha gentes!) Não a conhecia senão quando a Mafalda Veiga a cantou em concertos. Aqueles onde o Jorge Palma urbano e errante se mistorou com a voz doce e quente da Mafalda. Há a estrada que nos foge e é tão nossa, a paisagem efémera, há as viagens pelas amizades que se constroem nestas cumplicidades. Mifá. Sei que nunca me vou esquecer do cheiro daquela viagem, das cores e de nós mergulhados na música, repetidamente. da Té, repetidamente. Mifá. de Braga que se molda aos nossos sentidos e se torna no lugar perfeito.

"Mifá
É de um comboio que eu te escrevo,
Mifá
São os teus olhos que eu levo,
Mifá
Dentro dos meus
Vê lá tu
Mifá

O amor nem sempre é brincadeira,
Mifá
Quer a gente queira ou não queira,
Mifá
As coisas são mesmo assim

E toda esta conversa
É só por tu teres vindo comigo
Por termos conseguido chegar juntos ao ninho
Por esses momentos em que eu

Não fui sózinho
Mas depois foi a bagagem
E o inevitável adeus do caminho,
Mifá
Tem cuidado contigo
Mifá

Não vou soluçar por ti,
Mifá
Mas tenho um espaço vazio aqui,
Mifá
No meu coração
Vê lá tu
Mifá

Solamente una
Dói se pensarmos que
Isto é o fim
Mas resta sempre
Alguma coisa

E toda esta conversa
É só por tu teres vindo comigo
Por termos conseguido chegar juntos ao ninho
Por esses momentos em que eu

Não fui sózinho
Mas depois foi a bagagem
E o inevitável adeus do caminho,
Mifá
Tem cuidado contigo
E toda esta conversa

É só por tu teres vindo comigo
Por termos conseguido chegar juntos ao ninho
Por esses momentos em que eu
Não fui sózinho
Mas depois foi a bagagem
E o inevitável adeus do caminho,
Mifá
Tem cuidado contigo"

Jorge Palma

o tio

Porque é que quando estou a trabalhar de madrugada e não estou a gostar do trabalho fico sempre com um sono impossivel de aguentar?...
É daquelas perguntas que só nos ocorrem no silêncio da noite... sem querer: como é que o tio patinhas é tio se não tem irmãos, nem é casado??!

vou dormir.

7.12.04

esperar-te

"não me arrependo das horas que perdi a esperar-te quando ainda havia a esperança. a esperança que havia ainda quando, a esperar-te, perdi horas de que não me arrependo.

um instante na memória de chegares é mais valioso do que jardins. do que montanhas, do que anos de tempo.

arrependo-me de ficar ao sol, se sorrir, de esquecer que devagar passam os dias. os dias passam devagar, esquecendo-se de sorrir de sorrir ao sol e de ficar onde me arrependo."


José Luís Peixoto
in "uma casa na escuridão"


Este blog existe porque, entre outras influências, foi-me nascendo uma vontade de escrever e de escrever aqui.
Não sei ainda se vou ser lida, se vou partilhar este espaço.
Criei um blog, chamei-lhe todos os lugares. Porque me fala já de todos e de cada lugar, onde quer que esteja, o que quer que seja. Ontem, dia 6 de dezembro, fez 6 meses de uma data que me marcou intensamente. Uma dor que não conhecia. Num dia em que acordei feliz em juntar-me aos milhares e ver de perto o "deus" sting. Quis escrever sobre isso. Não sabia onde, nem como, nem para onde. Queria escrever à minha avó. espero-a, como no excerto acima, espero-a na esquina de todos os lugares, nos lugares de todos os dias. Queria dizer-lhe que me faz a falta da vida. Que me lembro de si todos os dias, avó. e que 6 meses sem si custaram a passar. mas o importante, a parte boa do que fica, a vida que me ensinou, a vida em sorrisos, e os sorrisos da vida, em qualquer parte de nós. avó, ate sempre.

Hoje acordei em Caetano...

Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço
Calção, corpo aberto no espaço
Coração
De eterno flerte
Adoro ver-te
Menino vadio
Tensão flutuante do Rio
Eu canto pra Deus proteger-te
O Havaí seja aqui
Tudo o que sonhares
Todos os lugares
As ondas dos mares
Pois quando eu te vejo eu desejo o teu desejo
Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Toma esta canção como um beijo