o fado das indias
ontem descobri uma lisboa diferente lá para os lados da mouraria. é uma lisboa antiga aquela que está escondida por trás da desordenadamente ordenada mistura de culturas que lá existe hoje. ao subir as escadas da mouraria entra-se, inesperadamente, noutros países, noutras realidades. é fantástico perceber a forma de vida de culturas tão diferentes dentro das nossas paredes, dentro das casas que foram pensadas ainda para o habitante pombalino. ver as crianças com os traços indianos atropelarem-se em brincadeiras nas ruas que foram habitadas pelos fadistas dos outros tempos é sentir a adaptação do estilo de vida, a impressionante capacidade da mudança e da adaptação do ser humano. os diferentes modos de vida, as alterações no mercado de trabalho, os direitos, os cultos religiosos, as identidades. penso: a autenticidade da cultura é uma constante mudança, não há passado nem presente mas sim uma acumulação de vivências que começaram enraízadas a um lugar. o lugar é a raíz, cada pessoa que passa deixa a sua marca. os lisboetas de hoje são, em grande percentagem oriundos de outras culturas, imigrantes, o que, para muitos é um aspecto negativo, para outros é uma forma de aprendizagem imensa, onde se espera uma inversão do melhor de cada cultura, filtrada ao sabor das origens de cada lugar. talvez seja cruel a rápida irreversibilidade das transformações, e talvez seja uma questão eterna essa do medo da mudança, do medo do desenraízamento.
eu tenho orgulho na minha cidade: lisboa tem, em consequência da sua história, um centro histórico surpreendente e esta capacidade imensa de albergar tantas outras cidades histórias luzes memórias pessoas sons cheiros sensações por dentro dos seus recantos mais escondidos.
ir à mouraria é ir numa das muitas possiveis viagens à cidade desconhecida por dentro de lisboa.