11.10.05

"sacerdotes sacertodes raeeeza raeeeza".

o B. era como se fosse uma criança que nunca tinha crescido nem devagarinho como nós. eu gostava disso nele, era como um peter pan, tinha o brilho nos olhos dos sonhos imensos por realizar. o B. era um dos irresponsáveis mais responsáveis que eu conheci na minha vida. conheci-o nos escuteiros. e hoje chorei as lembranças boas da sua vida em mim. veio-me à memória um acampamento de agrupamento onde fui da equipa dos sacerdotes em que o B. também fazia parte. o nosso grito. as noites. o riso. aquele ultrapassar saudavel das regras que nos dava o friozinho na barriga. a amizade. acima de tudo. para mim, a importância de conhecer pessoas boas, boas pessoas. saber que elas existem. aprender a ser melhor a cada dia. o B. era uma delas e está lá, quando acontecem as melhores lembranças da vida. quando penso na razão de exitir.
e desaparecer assim uma pessoa como o B., incompreendida pelos seus olhos de peter pan, tão novo de vida e tão cheio de ser boa pessoa, faz pensar. e pensar na morte tem sido cada vez mais normal. porque quando crescemos os outros também crescem e vamos deixando de ser imortais e os outros também. e há os que deixam de estar para sempre e isso custa e vai-nos marcando nos passos que nos fazem crescer. mesmo quando não se quer. mesmo quando crescer implica deixar um bocadinho dos sonhos para trás. o B. nunca cresceu e era feliz.

quando fecho os olhos ainda o vejo, ruivo despenteado cheio de sardas com vontade de viver. o B. tinha um cão que se passeava pelo estoril e ia ter com ele a todo o lado. nem que para isso fosse preciso apanhar um comboio... é assim que o vejo, com o seu cão de estimação, a passearem despenteados pela nossa terra.
vou-te ver assim para sempre dentro de mim, B.

"És o tempo que passa e que voa,
Num instante melhor;
És o "adeus" que partilhaste que magoa
Para lá do que ficou.

És a esperança do olhar que procura,
Um gesto de amizade;
És o fogo, o calor e a ternura,
És Homem de verdade."


do cancioneiro do CNE