27.4.05

É certo porque é impossível

Hoje fui a uma conferência de arquitectura. (Mais uma!) mas hoje era especial, porque era com a professora que me ensinou arquitectura, com a professora que me fez gostar da loucura do impossível, da loucura de projectar os sonhos mais audazes. que me ensinou que nas bases de todos os nossos projectos (sendo eles de arquitectura ou não) tem obrigatoriamente de existir um conceito, uma ideia forte que nos projecte e que nos faça fortes com ela. que me ensinou o que nem ela sabe que me ensinou, que me ensinou a olhar para as coisas de outra maneira; para a vida de outra maneira, e para mim de outra maneira. E a conferência até nem correu muito bem, a Mestra Arquitecta Sonia Silva estava nervosíssima até à ponta dos dedos. eu senti uma coisa estranha, e já me aconteceu isso noutras ocasiões. pessoas que gosto e que admiro, nervosas num palco. acontece que fico tremendamente nervosa por elas. como se fosse eu que estivesse ali. mas no meio de todo o nervosismo encontrei a arquitecta que me ensiou as coisas da arquitectura, a matéria e o vazio. Nem sempre aquilo que sabemos e todo o conhecimento que guardamos conseguimos comunicar aos outros da melhor maneira, e há dias mais difíceis.

O outro arquitecto que falou dos seus projectos foi o Arquitecto Ricardo Zuquete. Um dos mais "famosos" professores lá da faculdade. estranho ou não ele nem é muito "famoso" pelos seus projectos, repletos de conceitos repescados e interessantíssimos, mas sim por ser o primeiro professor, "aquele" professor que todos apanhamos quando ali entramos. Lembro-me vagamente das aulas dele no 1ºano, eram às 8h da manhã e por essa altura eu estava sempre meia a dormir e pouquissimo interessada nas conversas tão dinâmicas do professor sensação com os seus olhões azuis e a sua altura a fazer qualquer coisa como dois de mim.
Hoje foi diferente, passaram-se uns anos também, ouvi-o com muito mais motivação. (este post seria só para citar a frase que o fez abrir a conferência e já vai aqui...) O professor Zuquete abriu a conferência com uma frase que fez logo um link dentro de mim para todos estes anos por ali e para tudo o que já aprendi enquanto pessoa. lembrei-me do seu velho habito de levar desenhos de crianças e contos e fábulas e de nos fazer acreditar que o importante era não deixar que a criança cá de dentro adormecesse. a frase falava da impossibilidade das coisas. e de nós, seres imaginativos e capazes de tudo, não termos medo do impossivel, pelo contrário, sabermos conviver com ele lado a lado, na fronteira da loucura. Não me lembro da frase toda ao certo, mas lembro-me de ser uma resposta da Rainha Branca de Lewis Carroll (na Alice no País das Maravilhas) à Alice, quando a Alice diz "Uma pessoa não pode acreditar em coisas impossíveis". A Rainha Branca responde-lhe: "eu ouso dizer que não tens muita prática (...) às vezes acreditei em tanto quanto seis coisas impossíveis antes do pequeno almoço".

(alguém por aí...

... me sabe dizer porque é que já não consigo por fotos aqui??
[uaaaaaaaaaaaa])

há dias em que as palavras são só palavras e as nossas coisas mais facilmente se exaltam em imagens e fragmentos, no silêncio de uma letra branca.