8.4.07

uh uh yeah yeah, so com o remix dos buraka som sistema, isso sim.

Re: Valle

"Medes a vida pelo número de vezes que já respiraste ou pelo número de vezes que ja te tiraram a respiração?"

não costumo "medir" assim a vida, por isso não consigo responder directamente, mas estive a pensar nisso... percebo a pergunta, a comparação da importância entre aquilo que é nosso e aquilo que é dos outros em nós.
acho que é importante demais o que absorvemos dos outros, de quem nos dá coisas a saber que dá, de quem nos dá sem saber, de quem queremos receber, dos devaneios que temos onde recebemos coisas do mundo inconsciente, tudo o que absorvemos do que está à nossa volta é a nossa vida. somos feitos dos outros. e por isso o número de vezes que me tiram a respiração, aquelas vezes em que deixo de ter controlo sobre os meus passos e me deixo levar por uma força exterior a mim, essas vezes, são importantes, mas andam a par e passo com as vezes em que respiro, porque isso sou eu a viver, o dia a dia dos dias. e os dias pouco importantes não são aquilo que nos constroi, aquilo que faz os dias importantes serem assim?

há uns tempos pensava que quando iamos "visitar" a memória, ou seja, aquela altura em que "medimos o número de vezes que respiramos" , só restassem nas lembranças as coisas muito boas e as coisas muito más (o que vivemos com a intensidade suficiente para nunca mais se apagar cá de dentro). agora sinto que há mais do que isso, descobri que acima de tudo, anda de braço dado com a imaginação, com o que não existiu. "a poética do espaço" fez-me encontrar este lado da memória onde acabamos por confundir o que é realidade e o que é sonho e devaneio. e na memória guardam-se também os dias que não vivemos. e os que vivemos sem saber. e os cheiros e os sabores e os sons que não sabemos que guardamos. nunca vos aconteceu cheirar um cheiro, ouvir um som, sentir um sabor, que vos leva para um lugar que vocês já não imaginavam existir na memória, onde quer que ela viva, no sotão da alma?!

é por isso que acho importantes os dias todos em que "só" respiramos, para além de serem o nosso "sumo", guardam neles memórias que vamos descobrindo enquanto vivemos outros dias diferentes desses dias normais. e depois, quando nos "tiram a respiração", a memória fragmenta-se, abre buracos, faz mossas, esses dias são normalmente vividos com outro tempo diferente, tão depressa ou tão devagar, tão bom ou tão mau, tantas vezes são os que preechem as nossas histórias com as cores que queremos pintar. os outros, são o fundo, o cenário, as cores que a vida nos pinta nos dias onde existimos outra vez.