5.11.07

(a sós)

choro-te. a solidão não me assusta. a inércia faz-me pensar, o estar a sós é o peso que nos carregamos. há quem goste de carregar pesos, e há os que são fracos de força, não suportam o peso dos ombros nos ombros cansados cansados. choro-te. estar a sós é virar o avesso, falar a sós em linguagens próprias que se comunicam a sós. o movimento dos outros é um corpo uniformemente rápido e ausente. por nós o tempo estagna. (penso em ti: carrego-te como peso leve nos ombros pesados pesados. de outros pesos) estar a sós não me assusta. e sou fraca. queria-nos tempo. cria-nos tempo. assusta-me antes o movimento do peso dos outros. a existência dos dias desorientados e sós. a sós. a nossa ironia.


"Todas as imagens que nos olham também retraem o seu olhar, quer nos pormenores e nas sombras, quer na luminosidade e na completude do rosto. No entanto, é neste retraímento que reside um dos segredos da dádiva"

Jean-Luc Nancy
in Festival Temps D'images