7.3.05

nua II

Gosto do sal colado à pele. Gosto de casas e tectos e planos e pátios e água. Gosto do som da água. De me demorar num abraço. Gosto do ser e da palavra eterno. Gosto do sabor a sal. Gosto de brincar. da Galé e de Marvão. Gosto de pessoas queridas, e de pessoas com máscaras de más quando não são: e de descobrir isso, de descobrir sorrisos lá dentro. Gosto do bairro alto, do castelo e de alfama. Gosto de teatros. Gosto de camarins e gosto do nervoso de entrar em palco. Nos outros e em mim. Gosto de ballet: das minhas pontas, das musicas que ainda hoje me trazem os passos silênciosos em volta de si. gosto das recordações. E da memória. Gosto do chapitô e de jantar no restô. Gosto de ter saudades. Gosto de ter tempo. Não gosto de andar à toa. Gosto de me perder. Gosto de pintar. Gosto de desafios. Não gosto que saibam tudo de mim. Não gosto de xila. Gosto de sintra no inverno e da lagoa azul. Não gosto de manga. Não gosto que me controlem. Gosto da liberdade limitada quando finjo que os limites não existem. Gosto do Matisse e do Degas. Gosto da Viera da Silva e do Pullock. Gosto de arte e da criar-te.Gosto do Porto. Não gosto quando me perco no Porto. Não gosto de vodka. Não gosto de gin tónico. Gosto de cerveja gelada e de vinho tinto meio morno. Gosto de coca-cola, ice tea green e gostava de café. Gosto do Rui Chafes. Gosto de dormir na praia e acordar torrada. Gosto de receber cartas e emails que não sejam forwards. Gosto de timing e de tê-lo. Gosto de piadas secas (as “piadas ribeirinhas”). Gosto do prédio amarelo. Gosto de tascas e de évora. Gosto dos alentejanos. Gosto do "nosso" clube de fãs da Mafalda. Gosto de planícies e das estrelas do alentejo. Gosto da Ju a dar ordens. Gosto de caipirinha. Gosto do pico e de ter subido lá acima. Gosto da Mafalda Veiga. Gosto de ter amigos de muito tempo. Não gosto de música pimba. Gosto de conduzir. Gosto de viagens sem destino. Gosto quando está frio la fora e o carro está quentinho. Não gosto de bichos de prata. Gosto de acampar. Gosto da essência das coisas. Só às vezes é que gosto de exageros. Não gosto que haja fome. Nem doenças. Não gosto de ter de mentir. Gosto das sombras dos passos no chão. Gosto de chão. Gosto das coisas boas da Té, e de todas as coisas boas que a Mafalda me ensinou. Não gosto de más noticias: nem de telefonemas com más noticias. Gosto de guitarras e gostava de saber tocar. Não gosto de depender do telemovel. Gosto de ser tocada por quem gosto, e de mãos. Gosto de dar prazer aos outros. Gosto de festinhas na cabeça. Gosto de massagens. Gosto que a Té ainda me esteja a dever umas. Não gosto de violações a mulheres e a crianças. Gosto do gato fedorento. Gosto do Jorge Reis-Sá e da Rita Ferro Rodrigues a escreverem. Gosto das piadas da Janica. Não gosto de fazer directas quando tenho sono. Gosto de dormir. Não gosto de depender da sorte. Gosto da Ella Fitzgerald. Não gosto dos piropos dos homens das obras, a não ser que sejam especialmente trabalhados para terem piada. Não gosto de velhos rebarbados. Gosto da Amelie e das cores da Amelie. Gosto do dramatismo do José Luis Peixoto. Gosto do chile e gostava de pisar aquela terra. Gosto do Ché. Gosto da pureza do budismo. do zen. Não gosto de pensar no futuro das crianças deficientes. Não gosto do cancro nem da morte que lhe está associada. Gosto do momento. Não gosto da capacidade que um momento tem de fazer o futuro incerto e gosto da ideia do futuro incerto. Gosto da Diana e da Rita e da Inês e da Inês e da Xinho e do Filipe e do Gravito e da Sofia e da Martinha e do Erick e dos outros que são daqui e que gosto. Gosto da minha terra e de ser ao pé do mar. Gosto da minha turma deste ano: e de ter conhecido o Gonçalo (gosto de pessoas sinceras) e o Pedro e o Pedro e a Ana e a aasul. Gosto da aasul. Gosto das orações da aasul e dos velhinhos. Gosto de voluntariado e de gente que faz voluntariado. Gosto da Maria a cantar e tenho saudades. Não gosto de despedidas para sempre. Gosto do João desafinado a cantar a menina das tranças pretas. Gosto que o João saiba tudo e não gosto que o João saiba tudo. Não gosto de saber que alguém não teve infância. Gosto da palavra sempre. Gosto da Maria Bethania em maricotinha ao vivo. Gosto dos italianos. Gosto do Jamiroquai. Não gosto de ainda não ter encontrado um chinês bonito. Gosto de malucos. Gosto da Rita Lee, da Fernanda Young, da Vera Mantero, dos projectos do Dean e de todas as pessoas que, diferentes, fazem avançar o mundo. Gosto da diferença. Gosto de beijos. de desejos. Gosto da parte secreta de tudo. Mas não gosto quando me contam aqueles segredos terriveis e perturbadores. Gosto de ouvir, aprender e aconselhar. Gosto de ser amiga. Gosto que confiem em mim. Gosto de ajudar. Não gosto de extraterrestres verdes com um olho. (Se tiverem dois olhos ainda escapa...) Gosto do Souto Moura. Gosto de estórias e memórias de quem já viveu algumas coisas. Gosto de pessoas frias que são quentes por dentro. Gosto do cheiro dos bébés, da praia, do chocolate quente, dos chás, do herbal essences, do light blue, dos morangos, da manha, de roupa nova, das avós, do café, das tintas acrílicas, da felicidade, da vida. Não gosto do cheiro da gasolina, dos cigarros dos outros, do queijo da serra, do whiskey, do ferro a soldar, da morcela. (esta ultima frase deixou-me mal disposta...) Gosto do Sporting. Não gosto do Benfica. Gosto do calor do sul de espanha. Gosto do anoitecer. Gosto de Barcelona. Não gosto de Sashimi nem de sushi: não gosto de peixe cru. Gosto de quente e de pele. Gosto do Ethan Hawk e da Julie Delpy em before sunrise e before sunset: gosto de imaginar que aquilo pode acontecer, gosto do perfil dos personagens e da banalidade simples da vida, gosto de me descobrir na "Celine" mas não gosto de descobrir com ela o quanto também eu sou neurótica e quase incapaz de me entregar. Gosto de misticismo. Gosto de ter medo e não gosto de ter medo. ele existe. Gosto de gritar, faz bem. Gosto de ouvir quando todos falam. e ainda não gosto de falar quando todos ouvem, fico com vergonha. Gosto de tribos. Gosto da India e de ter um primo "maluco" que mora lá: de não ser a ovelha mais negra da familia. Não gosto de droga que estraga familias. Gosto do meu padrinho. Não gosto que ele more longe. Gosto de pensar na ideia de um inter-rail, de um ano em voluntariado fora de portugal, do mundo ser a dois passos de casa. Gosto de ecologia e de renovar, reconstruir (re...)... Não gosto de hipocrisia. Gosto de competência. De vontade. De energia cinética. Não gosto quando me subestimam. Gosto de ter a certeza do que sou. Não gosto de ser preguiçosa. Gosto da meia lua em forma de queijo. Gosto de quem me está a ler porque tem paciência. Não gosto quando espero respostas e as pessoas não falam, não respondem, não são. Gosto do silêncio. Não gosto do silêncio incomodativo entre amizades. Gosto que a Margarida esteja a acabar medicina. Gosto do mar e da Sophia. Gosto de estrada. Gosto de me rir. Não gosto do meu sorriso. Gosto de luz quente amarela torrada. Da luz de Lisboa nas coisas. Não gosto de estar branca. Não gosto quando não se lembram do meu nome. Gosto dos meus amigos felizes. Gosto da luz que a arquitectura é capaz de fazer. Gosto do que ainda não existe. de pensar que ainda posso fazer uma casa, escrever um livro, pintar muitos quadros. Gosto de pensar que posso mudar o mundo. Não gosto de me sentir inutil. Gosto de ganhar dinheiro mas gosto ainda mais de gasta-lo. Gosto da Laurinda Alves porque nunca li nada dela que não tivesse gostado. Gosto dos Açores e da Ana Moitinho. Do Pedro e da Cuca. Gosto de sentir o vento quente de braços abertos. Gosto de pessoas divertidas. Gosto de puffs espalhados pelo chão e de redes brasileiras. Gosto de desenhar, pessoas e gestos, ambientes. Gosto de música. e da lua. de relva. de areia, areia quente a queimar os pés. Gosto que me emocionem e que me façam mexer os sentidos, remexer a vida, ir ao fundo. Gosto que a vida seja para sempre. e de me despir aqui, inteira.

nua

Gosto que a palavra saudade só exista em português. Gosto de fotografia. E da fotografia de Tom Jobim. Gosto de cappucino. Não gosto de dores. nem de doenças. Gosto de gente. Não gosto de gente a sofrer. Gosto de cores. Gosto de preto. E de branco. De azul e do Blue do Yves Klein. Gosto da Adriana Calcanhotto que inventou esta maneira de nos autobiografarmos. Não gosto de imitar, mas às vezes tem de ser porque só pode ser assim. Gosto de escrever. Gosto de ler. Gosto dos meus amigos e de chocolate. Gosto de pipocas e que chamem pipoca. Não gosto de limitar. Gosto de limites. Gosto de riscos e riscos. Gosto dos afectos. Das saudades. Da ternura. Do amor, o incondicional. Não gosto da solidão por imposição, gosto de estar só. Não gosto da solidão nos olhos dos velhinhos. Não gosto do preconceito nem das preocupações, não gosto do racismo nem da falta de tempo. Gosto do tempo devagar e quente. Dos dias cor de laranja quando o sol se vai embora. Gosto do frio com sol na marginal. E da chuva de braga. Das cores que sobram à passagem da vida lá na quinta. Gosto da Guida e da Francisca: quando a Francisca canta o nome dela. E quando se adivinha a emoção. Gosto do amarelo torrado e do verde que só há lá. Gosto do amarelo que fica em Lisboa. E de lhe chamar a minha cidade amarela. Gosto de Lisboa de Mil Amores. Do Lume, da Llovizna, do Acrobata e de Una Casa. Não gosto dos morangos com açucar. Gosto do verde dos sapos. Não gosto do bom gosto, que é como quem diz gosto das Senhas da Adriana. Gosto do Jack Johnson e do John Mayer, da Norah Jones, de vozes quentes. Gosto de madeira e de pedra. Gosto do Rodrigo Leão e dos The Gift. Do Bento. Gosto do banho a escaldar. Gosto de fumar. Não gosto que fumar faça mal. Gosto do senhor chinês que inventou a escrita. Não gosto que os chineses inventem tudo e não nos deixem nada para inventar. Não gosto que eles sejam tantos. Gosto do Japão. Gosto do Tadao Ando. do respeito que os Japoneses têm pela luz. Gosto de viajar: mesmo que seja só em pensamento. Gosto de imaginar o sol a dobrar a esquina. Gosto de fazer filmes enquanto observo algum desconhecido, de supor a sua vida. Gosto de olhar as pessoas. Gosto de começar um pensamento com “e se...”. Gosto dos olhos bonitos, e dos feios. Gosto do olhar expressivo e pestanas grandes. Gosto de sorrisos. Não gosto de sorrisos falsos. Gosto do alcatruz. Não gosto que de repente toda a gente conheça o nosso cantinho cá da terra. Gosto do Tibete e do Dalai Lama. Gosto de yôga. Não gosto de invasões. Não gosto quando dou por mim a ser má pessoa. Gosto de mudar todos os dias. Não gosto de rotina. Gosto de começar um novo dia diferente. Gosto de crianças: da sua capacidade de serem inteiras. Gosto do Peter Zumthor, e do Siza. Gosto de reiki e de conseguir fazê-lo. Não gosto quando não dá certo. Gosto do mestre. Gosto de gente boa. Não gosto de desistir das pessoas. Gosto de estar perto. Gosto do Dr.Celso e da Lúcia. Gosto de saber que a nossa mente é capaz de tudo. Não gosto de ser esmagada nas discotecas. Não gosto de gente inconsequente, de gente grande que diz disparates sem pensar. Não gosto quando me magoam e não gosto de mentiras. Gosto de confiar e acreditar. Gosto de gostar e não gosto de não gostar. Gosto de ficar deitada no chão a ouvir música. E de acabar uma maquete que ficou boa. Gosto de ser surpreendida. De me surpreender. Gosto quando me fazem surpresas. E não gosto quando me fazem surpresas. Gosto de conhecer pessoas e os seus pensamentos. Gosto de mistérios e de me envolver. Gosto de descobertas e de aventuras- que é como diz o meu horoscopo. Gosto do horoscopo porque só diz coisas boas. Gosto do Pedro Granger porque ele não me liga nenhuma. Acabo de descobrir que não gosto quando me ligam demasiado. Gosto quando me “picam”. Gosto de não ser capaz de tirar os posters do Brad Pitt do armário com medo de crecer. Gosto de meias. Gosto das meias coloridas que a Jana me deu, e da maneira como ela pinta os dias às cores e às fadas. Gosto de abraços. Não gosto de palmadinhas nas costas. Não gosto de abelhas porque elas picam toda a gente sem razão. Gosto de borboletas e de cães, lá ao fundo. Gosto de amarelo. Gosto do Caetano. Gosto de gostar de todos os lugares. Do menino do rio. Não gosto do barulho das melgas e das moscas e das abelhas a aproximarem-se do ouvido: zzzzzZZ. Gosto do brasil e nunca lá fui. Gosto de N.Y. e também nunca lá fui. Gosto de rugas. Gosto das rugas nas fotografias a p&b. Gosto de ter boas notas mas não gosto de ser a melhor. Gosto que os outros tenham boas notas. Gosto de competição para avançar. Gosto de jogar e não gosto de perder. Gosto de comida vegetariana. E de ter deixado de comer carne há tantos anos. Gosto de me demorar quando gosto. Gosto do manahmanah. Não gosto que se chateiem comigo. Não gosto que me chateiem. Não gosto de ver o meu avô triste. E não gostava quando via os meus avós separados por uma cama de hospital, muito menos agora, pela morte. Gosto da vida. Gosto de viver. Gosto das cores dos dias. E do silêncio da noite. Do primeiro azul que traz a cidade na claridade. da estrela da manha. Gosto de brigadeiros. Não gosto de queijo, só o das pizzas e das tostas. Gosto de igrejas. Da imensidão. Não gosto de algumas coisas que alguns padres inventaram por cima da religião católica. Gosto de Jesus que está cá dentro. Gosto que a D. Maria passe a vida feliz, mesmo na solidão dos dias. Gosto da minha familia pequenina: gosto quando o meu pai diz disparates e nos rimos porque sim, gosto quando o meu irmão é irmão, quando a minha mãe não precisa dizer nada. Não gosto quando discutem, nem de pensar na inevitável separação a acontecer. Não gosto de cair em pensamentos mórbidos, mas acontecem: de me imaginar a cair quando estou la em cima de alguma coisa, ou outra pessoa qualquer, de imaginar a vida a ser morte ou de imaginar coisas a correrem mal. Gosto quando esses mesmos pensamentos são cómicos, quando imagino alguém a tropeçar, ou um político que de repente diz as verdades, um cão que fala ou uma beata pronta para a noite. Não gosto do conceito dinheiro. Gosto da paz. Gosto de tocar na loucura e reconhece-la proxima. Gosto da Maryland a cantar fado. e as outras musicas do seu reportório. Gosto de chocapic. Gosto de pessoas interessadas. Gosto de música. de surf. de correr para lugar nenhum.

Gosto que a palavra saudade só exista em português.

dias

hoje estou triste. comecei o dia por me lembrar da minha avó, a missa, o meu avô a chorar baixinho, o almoço com uma cadeira a mais. à tarde, visitas que me lembraram dela, como era boazinha e como queria ajudar o mundo e como eu morro de saudades do seu colo. não fico triste triste mas fico com uma vontade de um abraço que só podia ser dela, com vontade de a ver na cadeira que ainda a espera, fica um vazio de saudades que não acabam, só se adormecem nas lagrimas presas ao sono, e tenho ainda tanto trabalho pela frente antes de ir dormir. dias...