31.1.05

estrada



estrada como a vida fugaz. momentos eternos, na estrada.
estrada dos detalhes mágicos da vida.

grito

( Se eu gritar... alguém me ouve ? )


"Faz chegar até mim as palavras que me aproximam de ti
põe também na minha boca esses lugares (...)"

Miguel Patricio

“podemos ser realistas do irreal e figurativos do invisível”

balthus

30.1.05

os dias iguais

a D. Maria espera impaciente o tempo que não chega. tem os dias contados e sabe de cor as dores que a perseguem. Acordou cedo, fez questão de acordar os colegas todos do lar, com sorrisos e boa disposição. a D. Maria nunca chora: é a pessoa mais alegre do lar. só chora baixinho e nunca chora, porque não. porque é forte. fui visita-la. a D.Maria sabe que pertence àquele lar como a vida lhe pertenceu inteira. estava quieta, sentei-me por ali onde a luz pousava devagar. a D. Maria falou-me dos sonhos que ainda tinha e chorou, como se nenhum pudesse acontecer no tempo que hoje lhe foge pelas mãos. chorei com ela. pensei: a vida é tão fugaz. quanta ternura desperdiçada. nunca noutra vida teremos tempo para viver o que falta no nosso tempo da nossa vida que é hoje. pensei: a D. Maria pensa que a vida hoje são dias de tempo que não passa e voa sem mudar as horas que lhe fazem os dias iguais. A D.Maria sabe tão melhor que eu como se faz para acreditar que hoje é que conta. que não há sonhos que não possam existir em tempo de nós. eu olhei-a com vontade de a abraçar e a levar de mãos dadas a todos os sonhos que ainda lhe são pequeninos de vida. Pensei: se a levar a todos os sonhos a vida acaba. Nenhum olhar lhe fará melhor do que aquele que lhe diga um dia, um dia... um dia D.Maria, um dia, tenha fé!.. . Disse-lhe em silêncio o quanto gosto dela e de a ver fazer os dias dos outros menos iguais aos dias que são dias tão grandes como os que lhe enchem os dias. a D.Maria acordou sorridente, os outros quietos. quietos. acordaram para as batalhas dos dias iguais. uns, dizem coisas que nunca percebo, e isso doi. às vezes olham com caras estranhas e isso doi. não me faz so lembrar os dias iguais dali, mas também os dias iguais que a D.Fernanda teve com gente maluca que nunca chegou a perceber. pois é, tive momentos com a D.Maria em que me desliguei das suas historias e saudades e vida e corri lembranças, a minha memoria memoria. mas o medo não tinha razao de ser: não há dias iguais, nem histórias iguais, nem cheiros iguais em pessoas iguais. tudo é parecido, efémero, fugaz, igual, corrido, antigo. a D.Maria diz-me para não me preocupar nem me assustar com quem me olha estranho dono de nenhum olhar, é normal. é como se a vida lhe fosse um milagre contínuo, e a ninguém devesse aquilo em que acreita. Eu contra o mundo. Hoje senti saudades e apeteceu-me escrever-lhes. gratidão talvez? Como se um dia que fosse hoje lhes pudesse dar os sonhos que lhes fazem os dias acordarem doces devagar iguais iguais.

28.1.05

parabéns a ti

amizade saudade abraço
grande azul olhos azuis azul mar praia riso
noite noite noite lua amizade.
loira as loiras as outras loiras.
viagens descobertas olhar.
vida morte amizade saudade abraço perto longe perto.
eu pequenina tu grande nós espelhos vida cumplicidade.
jogos. noite noites amigos.
promessas esperanças compromissos.
cor
namoros rapazes rapazes rapazes amigos.
cartas pita s.joão telefone torres mar piscina sol verde.
fotografias imagens memórias futuro nós amizade.
música as nossas
maluquisses copos cumplicidades.
crescer ficar grande guiar viajar postais férias almograve mar.
amigos noite dia sol.
liceu aulas intervalos namoros faculdades.
telefone café cafés abraços.
pais livros telemovel tempo reiki mãos pés grandes.
sorrisos. sorrisos. sorrisos. olhos.
imagens jantares quarto quarto cheio cheio nós amizade.
sempre.
tu grande.
dias coloridos.
contigo, sempre.
parabéns.


como é que consegues fazer o mundo tão especial à tua volta? (obrigada por existires.)


és essencial na minha vida.
Parabéns a ti.


24.1.05

lugar "meu"




um dos "meus" lugares.

Enquanto ouvia Caramel, da Suzanne Vega, fui indo para um ambiente que me era familiar: quente como a harmonia da música, doce de amigos. Lembrei-me deste lugar dos sonhos, das estrelas. há uns dias, ia no carro para a faculdade e fui exactamente parar a este lugar: enquanto o caetano sussurrava, "mimar voce(...)".

há ambientes que são imagens e sons, há imagens e sons que são memórias que são músicas e músicas que são histórias e histórias que são as imagens do ambiente das memórias das músicas dos momentos essenciais das partes mais felizes de qualquer coisa que fomos. que fomos. que somos.

23.1.05

cadê o "mundo"?




"o homem só se apercebe, no mundo, daquilo que em si já se encontra;
mas precisa do mundo para se aperceber do que se encontra em si (...)"

Rui Chafes

antes e depois

mudei um bocadinho o meu estilo de vida desde que tenho um blog onde gosto de escrever, sobre qualquer coisa, o que quer que seja. agradeço vivamente à Rita Ferro Rodrigues, por me ter ensinado a gostar de blogs, a gostar da parte de partilhar com o mundo as nossas coisas, mesmo as mais intimas, a Rita ensinou-me a gostar ainda mais da escrita desprendida dos dias. -entre outras coisas. depois dos primeiros tempos na "blogosfera" sinto-me um bocadinho diferente: há uma reacção nova que tenho em relação às coisas, e boa: filtro melhor aquilo que me acontece no dia a dia, como se tudo o que vivesse fosse motivo de escrita, e é, quase- ou pode ser, dependendo da maneira como se (des)escreve. o maior problema é a disponibilidade dos dias que correm. dias que correm no verdadeiro sentido da palavra- porque os dias têm corrido a correr ultimamente.
antes de ter o blog, nunca pararia diante de uma criança na rua a inventar palavras para descrever o seu sorriso; nunca pensaria que o lugar da luz do dia é a vida, a praia em vida crua; nunca iria pensar em descrever o desenho perfeito da perfeição em palavras simples; nunca saberia como dizer diariamente àqueles que gosto, que são parte de mim, assim como nunca saberia dizer àqueles que mudaram a minha vida, por pouco que seja, o quanto lhes estou grata por isso; nunca iria pensar em descrever a solidão da velhice ou a dor dor da morte nua, ou, num acto de coragem escreveria para mim tais coisas, o que nunca seria vivido da mesma maneira; ou seja, o blog foi, sem duvida, uma marca importante, um lugar seguro onde me tenho inteira, onde o mundo me tem inteira. vou continuar, porque enquanto estou aqui, sou feliz, mesmo a descrever as maiores babuseiras. obrigada a quem me tem lido. (ja sinto saudades de escrever) os vossos comentarios são abraços abracinhos- e, saber que de alguma maneira vos entro pela casa a dentro -amigos- tira-me um bocadinho das culpas de andar tão sem tempo para estar com voces. saber que também vos leio a alguns nas nossas conversas de vizinhança, e que por aí nos vamos tocando entre os fugazes cruzamentos da amizade no nosso tempo.

20.1.05

lugares que são abraços

aprendi contigo que há lugares que são como abraços. tenho a certeza que amanha vais inaugurar mais um abraço no mundo. feito por ti, contigo lá. tu e nós. daqui, imagino as coisas espalhadas pelo chão, coisas e pessoas (como em casa da té), a ella fitzgerald lá ao fundo a cantar só para nós. um dvd que se revê. nós a chegarmos devagarinho e de repente estarmos todos e faltar alguém. quando fui à tua casa, antes de ser aberta oficialmente ao publico, tinha cheiro a tinta e paredes brancas, pintadas de cima a baixo, com pressa. tinha um armario por forrar, não sei porquê mas tenho a impressão que é das partes mais bonitas da casa, agora. pensei: a casa tem momentos que se deixam acontecer. a casa tem momentos mais antigos que as próprias paredes que a suportam. a casa tem uma magia so dela, memórias cravadas no chão e em toda a parte, e futuro escrito nas salas nascidas de ti. gostei das namoradeiras, à antiga. quando fui, imaginei como seria habitada por ti dali a uns tempos. imagino como estará agora. a casa que é nova e antiga e que é tão tua que não podia ser de outra pessoa. agora, adivinho: tem cores quentes e chão. sabe a abraço.
ensinaste-me que há lugares que são como abraços, como se uns pudessem ser e outros não. e é assim com quase tudo. mas há uma coisa que não sabes, tenho a sensação que todos os lugares que são teus não podem ser outra coisa senão abraços, apertados no fundo das melhores memórias. Boa sorte.

19.1.05

(boa noite...)

"boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas."

Sergio Godinho, in "Pano Crú"

18.1.05

memórias II


Laughing as I pray

"As I'm walking through these streets again
I'm crawling
And as I try to live my life again
I'm falling down

Can you pick me up
Can you let it stop
Can you make it go away

Won't somebody help me, is it hard
To let me find my way
Won't somebody love me (for a start)
I'm laughing as I pray

Where is the road
I must look at the road
I must pray a little longer
Or laugh a little more"

K's choice

17.1.05

um abraço

o pai da ana era grande. tão grande que não cabia nela o orgulho. ainda a vejo hoje a contar-me estorias de quem conviveu de perto com fernando pessoa, orgulhosa do pai maior que resistia ao tempo e a tudo. ainda a vejo a indicar-me uma revista onde lhe aparecia o pai, grande e bonito, que li e saboreei como uma historia de vida ternurenta e cheia. acho que o orgulho é a unica coisa que sobra e que aumenta neste instante. talvez todos os lugares por onde tenham vivido as inesqueciveis memorias de pai e filha. a ana herdou isso do pai: é também uma pessoa grande, capaz de nos orgulhar até não cabermos mais. imagino-a a receber as naturais lamentações, e doi-me ainda não lhe ter dado o meu abraço, sem lamentações, para não tirar o sentido da palavra, de tanto ser ouvida... doi-me sabe-la triste. triste por ter perdido essa referência, essa vida que transbordava vida e estorias e estorias e memorias. a ana é uma das pessoas da minha vida, uma parte da familia que escolhi. e talvez por isso aqui escreva, porque a adoro. porque me lembro que os açores lhe trazem os momentos mais marcantes da vida, com as ilhas em pano de fundo. este foi mais um, daqueles que não se esquecem nem se apagam, para um tempo que é sempre. aninhas, um abraço do tamanho do mundo- que caiba em ti o orgulho e os valores e os leves contigo para sempre, para que nunca (mesmo quando duvidares) percas esse brilho que é so teu.

16.1.05

o lugar da luz do dia



Fui criança, indo por um carreiro,
a caminho do mar, mão na outra mão,
entre árvores, pedras, insectos e aves.
Toda a Natureza me coube nas pupilas,
mestra de sentimentos, e eu discípula.
E, se fechava os olhos, ela punia-me
com o silêncio cruel das ondas,
a mudez imerecida dos insectos,
e a distância das aves, que doía.
Se os abria, tudo me rodeava,
apaziguado e meu,
mas a mão que me trazia a mão
puxava-me para a luz de cada dia.

Fiama Hasse Pais Brandão (in «Cenas Vivas», Relógio d’Água)

complicar a vida

aprendi aos 20 anos, e numa oração, que complicar a vida é uma coisa boa. há umas semanas, lá na asul (falo na asul outra vez porque este post vem em seguimento do anterior...não, não estou viciada no assunto...:P) enquanto se lia uma oração, dizia-se pelo meio que "é preciso sair de nós mesmos, complicar a vida, perdê-la por amor de Deus e das almas...". ao principio discordei totalmente com esta frase, ou seja, ela veio confirmar-me que a igreja é mesmo um "assunto complicado" e que gosta mesmo de nos complicar as vidas. depois explicaram-me as entrelhinhas desta frase e, mais tarde, fez todo o sentido. deixando de lado (sem querer substimar...) o conceito "igreja" e aplicando esta frase ao nosso (de qualquer tipo de crente) dia-a-dia, percebe-se que complicar a vida são todas as pequeninas facilidades que temos de abdicar por sentidos mais trabalhosos e, que, por serem mais trabalhosos (ou por darem mais luta), nos vão dar melhores frutos. Ou seja, (não sei se os meus leitores (lol) concordam comigo ou não, mas eu acho que faz sentido assim, e nunca tinha pensado por este ponto de vista.) o facto de sairmos de nós mesmos e complicarmos as nossas vidas é importante: sair de nós mesmos sempre achei e sempre tive consciência que só pode fazer bem, mas aqui o importante é sair das nossas facilidades e dos nossos comodismos e não optar pelo caminho que à partida parece mais fácil: nem sempre o que parece é. e, fazendo assim um exame de conscência, dá para perceber que na maior parte das vezes aquilo que nos deu mais trabalho e nos trouxe mais complicações, são os nossos maiores orgulhos e as nossas maiores alegrias. no fundo, só o tempo é que nos faz perceber estas coisas com a nossa própria experiência... e mais, a preguiça é a maior inimiga destas complicações que afinal são boas: e eu, sofro de perguiça em estado grave.

15.1.05

sobre a asul

mas das ultimas vezes foi diferente. fomos com pressa na mesma, como sempre, mas sem medo. eu fui sem medo. a asul não morde. acho que já conhecemos de cor as orações e as coisas duras e leves e fortes e frágeis que nos vão dizer: aqueles que acreditam mais do que nós. Mais do que eu. gosto tanto de ir, confesso. gosto ainda mais de ser do contra. gosto demasiado de pôr tudo em causa, num dos ambientes mais seguros e confiantes e crédulos que ja conheci. Às vezes sinto-me uma aberração: por andar ao contrário. por acreditar noutros conceitos diferentes- que na essência são tão iguais- sinto que eles não sabem, e sinto que eles sentem que eu não sei os que eles sentem: e isso é fantástico! às vezes há vezes em que fico só a ouvi-los, e ouvi-los só é bom. sabe a abrigo. eles são certos nas coisas deles, pequeninos e grandes, fazem coisas de gente boa: constroem mundos melhores. eles são pequeninos como eu, cheios de vontades que se tornam reais porque somos pequeninos e não distinguimos os sonhos da realidade. não há maneira de ser mais feliz do que sermos criança para sempre. às vezes, há vezes em que me confundo com eles. acho que há qualquer coisa nessas vezes que me enche,que faz sentir melhor quando preciso. mas é mais do que essencial pôr tudo em causa. é demasiado forte para se aceitar sem saber bem o que é: esse conceito esquisito de religião que sabemos existir certo desde sempre. até sermos crescidos e pensarmos e duvidarmos de tudo. até sermos ainda mais crescidos e voltarmos atrás nas roturas que fizemos quase sem pensar. (re)começar. Quero começar a ajudar os outros -no verdadeiro sentido da palavra, preciso disso para viver melhor: como um elixir, ou, uma espécie de missão. escrevo para me afirmar que 'tou lá': mesmo que me confunda cada vez mais com eles (os grandes que são pequeninos) ou que me perca das suas teorias tão certas. a asul tem-me feito bem. gosto deles e gosto de os ouvir. há uma energia maior no espaço vazio que sobra de nós: sente-se à distância. estar perto tem-me feito acreditar mais num mundo melhor. ter a certeza que existe: e tão perto do perto que somos nós.

não me vou esquecer

não me vou esquecer. não me vou esquecer desse sorriso. não me vou esquecer nunca desse sorriso que ilumina as ruas por onde passas. as ruas por onde passas seguro: seguro desse mar frágil que te rebenta por dentro. não me vou esquecer. tens um sorriso sorriso que me faz sorrir com ele. um sorriso forte de quem é forte frágil no avesso. perco-me de vontades de me perder nesse sorriso. só por ser um instante- o teu sorriso por dentro: forte forte como tu por fora. há uma coisa que sei que não me vou esquecer nunca (por mais que a vida me faça esquecer dos sorrisos que iluminam todas as ruas da vida): esse sorriso sorriso eterno sorriso em mim.

12.1.05

do outro lado


fotografia margarida delgado

há cor do outro lado da rua. conheces? é cor de gente misturada. das casinhas ao monte com ruelas descalças, em casa.
é cor de terra.
não é cor nada. chama-se cidade. a minha.
tem o sabor da chuva e da terra molhada, consigo vê-la daqui.
do outro lado está a cidade no dia que nasce, parada. vazia de gentes. só cheia de si.

11.1.05

a familia que escolhemos

Hoje, só hoje e só por ser hoje e porque sim, queria dizer ao mundo que vos adoro: aos meus amigos.
nunca é demais agradecer ter-vos perto. um dia ouvi alguém dizer que os amigos são a familia que escolhemos. achei fenomenal. porque a maneira de gostar é mais ou menos a mesma, depende dos casos. muda a forma ternurenta como temos obrigatoriamente de nos mimar todos os dias. mesmo que só em pensamento.
quando o tempo aperta surgimo-nos nestas alternativas esforçadas e pouco ao nível de dizer os sentidos de nós. as nossas maiores forças: amigos. digo, hoje: adoro-vos.

os tropeços...

ok ok arrependi-me logo de ter sido tão violenta num dos meus ultimos posts... mas estava mesmo enojada.
tenho aprendido todos os dias a fazer coisas boas, a cada dia melhores: ou, a cada dia mais. muito mais do que a importância das palavras, a importância de sermos connosco. muito mais do que a importância do pensamento dos outros, a nossa consciência. tenho aprendido e tenho tido imensas lições assim completamente de graça, o que não quer dizer que já consiga dominar a parte de só fazer coisas boas, ou dominar-me e deixar de ter os ataques impulsivos que me constroem. não é fácil... é um caminho que se faz todos os dias. e vou tentando melhorar.

10.1.05

Hora

(para melhor o ambiente. :) e porque hoje vi o mar e cheirei-o e senti-o. a pessoa que nos seus versos tão bem o descreveu: )


"Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar."



Sophia de Mello Breyner Andresen

se o nojo existe...

tenho um professor que é um nojo. assim ao longe até disfarça. ao perto também, tirando algumas escapadelas a uma realidade estranha, algum tom esverdiado no seu cabelo a atirar para o grisalho... até podia ser uma coisa natural e indiferente, mas agora com uns meses de convivência, acho-o um nojo por si só, ou seja: ele não precisa de abrir a boca para ter os reflexos exactos de alguém que me "repela"... (como diz o joão: argggh!)

hoje tivemos uma aula na escola d. luisa de gusmão, ficámos numa sala que tinha um quadro branco, daqueles onde se escreve com marcadores. o professor queria desenhar um corte e não tinha a caneta especial para o quadro, remidiámos com um marcador normal (pois, deu asneira...). e escrevo sobre isto, (que é tão pouco interessante) porque hoje foi atingido o cumulo da nojisse: o senhor arquitecto tão cheio de formalidades, como quem faz a coisa naturalmente, cuspiu para o quadro. (mas uma cuspi "daquelas", deixando-se até ficar com umas pinguinhas na barba...) naturalmente. "talvez estes riscos só saiam com alcool, ou talvez com um paninho humido, ou talvez com... cuspo?!" e vai disto. conseguiu-me por mal disposta até agora.
ah pior: os riscos não sairam, só borraram um bocadinho. (nojooo!!)

(Ainda bem que partilhei isto com vocês- estou muito melhor agora.)

9.1.05

memórias




conselho de ano novo fora de tempo

"eu sou a parte do mundo que eu posso mudar."

anónimo

8.1.05

o acaso

ultimamente tenho vivido acasos, talvez sejam todos os mesmos de sempre, mas desta vez reconhecidos como acasos que são. O meu novo projecto vai-se chamar acaso. vai-se basear no acaso. ainda não sei bem como, nem que forma física lhe vou dar (esta é a parte que mais me custa fazer). Vai nascer do acaso porque ele já nasce do acaso mesmo antes do acaso acontecer. esta coisa de fazer projectos é uma loucura, as ideias surgem-nos em todo o lado e de todas as maneiras, fragmentadas. temos de trabalhosamente as decifrar e as fazer surgir em forma fisica, arquitectónica. sem que nunca se perca o sentido conceptual que o fez criar-se desde o principio da sua (tentativa de) existência.
Acho que no fundo o que quero é fazer um link directo da arquitectura para a minha vida. porque o território do novo projecto é um acaso fantástico na cidade, é um tropeção que nos abre uma janela com uma vista espectacular de lisboa. mas melhor do que isso é o facto de por trás da janela e por trás nós sermos só nós e a janela e nós em nós em silêncios de nós. o facto da natureza ter ajudado a criar barreiras que nos proporcionam lugares como este, onde se respira paz. (claro que o programa tem acasos feitos por pessoas estranhas com ideias estranhas que eu acho que nunca vou compreender.) e o link aparece porque tenho vivido acasos pessoais, que me têm fortalecido e enfraquecido e que acima de tudo me têm feito abrir os olhos para determinados assuntos, um deles é este de saber e acreditar sempre que nada acontece por acaso. e tudo o que recolhes dos dias são frutos para sempre, nada por acaso. acasos: tropeções surpreendentes que alteram minuciosamente o curso da vida de qualquer pessoa. só temos de os fazer importantes em nós e decifra-los. aceita-los 'with open arms' e tirar o melhor partido possivel. fazê-los nascer no mundo certo, há hora certa, e aprender a sua existência.

6.1.05

supertições

quando um gato preto atravessar o teu caminho,
significa que ele vai para algum lado.

5.1.05

sol amarelo

a
primeira
coisa
que
mais
gosto
de
saber
quando
acordo:
sol-
amarelo!


4.1.05

vai andando

vai andando que eu ja te apanho no caminho. a estrada faz-se bem. não tenhas medo. vai andando, passo a passo vais descobrir sozinha uma vida desconhecida, se te faltar rumo, eu ajudo-te. sigo-te os passos. como uma sombra, prometo. vou-te seguir para me guiar, para me descobrir nos teus caminhos. para amparar as quedas inevitáveis, sigo-te o rasto como uma sombra, na amizade. vai andando que eu já te apanho, se não precisares de rumos certos, fico no nosso silêncio, que é nosso porque é o silêncio dos amigos. e um dia, lá mais para a frente na nossa estrada, vou segurar no teu filho a ser madrinha, porque é um menino e eu sei que vai ser. vou-me orgulhar como me orgulho de ti e com a mesma força com que te sigo os passos inseguros dos dias fortes. seguros. vai andando que eu sigo-te os passos. fico por perto, espero que não tenhas medo de estradas desconhecidas, são a nossa força. vai andando...

3.1.05

esquinas

naquela mesma esquina onde se encontraram, perderam-se. passaram anos. anos que duraram a vida. anos curtos que foram anos. e anos anos que foram curtos e vida. numa esquina de tempo: o amor a cruzar-se como as vidas que correm por esquinas e esquinas de ruas e ruas. por vidas que se cruzam desconhecidas, em olhares que são o tempo solitário. encontraram-se na esquina, inesperada, quase chocaram- chocaram a vida e os olhos e dentro deles a vida, e os olhos, a vida. naquela mesma esquina onde se encontraram, perderam-se. passaram anos. o amor a ser a vida e a esquina a ser o desenho das suas histórias. o desenho das memórias mais felizes. as suas certezas mais certezas. perderam-se. para sempre, ou até uma esquina qualquer no fim de uma rua qualquer, naquela mesma esquina onde se encontraram: deserta só para eles. (porque o amor é assim, um deserto deserto de nós.) esperam a vida roubada em todas esquinas de todas as ruas, o amor. o que os fez eternos cruzados. amor que os fez viver. naquela mesma esquina. vivem e esperam, esperam, esperam a existir. o inesperado que mais esperam, nas esquinas das esquinas da vida.

2.1.05

Dilema

há dilemas que se mantém de ano para ano:

"O que muito me confunde
é que no fundo de mim estou eu
e no fundo de mim estou eu.
No fundo
sei que não sou sem fim
e sou feito de um mundo imenso
imerso num universo
que não é feito de mim.
Mas mesmo isso é controverso
se nos versos de um poema
perverso sai o reverso.
Disperso num tal dilema
o certo é reconhecer:
no fundo de mim
sou sem fundo."

Antonio Cicero