26.2.05

e por falar em afectos...

Fazes hoje 25 anos. (o tempo voa!!) de vez em quando ainda te culpo por não ter tido uma infância totalmente de menina como seria suposto... sabias? não que me importe, mas sinto que me faltou, por exemplo, usar aqueles vestidinhos que a avó e a tia me ofereciam em todos os aniversários e eu como unica neta e sobrinha e como maior desgosto tanto imbirrava em usar. a mãe? a mãe já sabia de cor o meu não gosto por vestidos e saias, nem valia a pena sequer tentar vestir-me dessa maneira, eu fazia birra, tirava, envergava umas calças ou uns calções e lá andava no teu rasto, sempre atrás de ti, seguia-te as pegadas e os gostos mais estranhos.
não tens culpa, costuma acontecer, quando se tem irmãos mais velhos, as raparigas sairem "marias rapazes" (lá está o maria como nome tipico popularusco...), as irmãs mais novas gostarem de jogar à bola, de brincar com os carrinhos, com os bonequinhos de futebol, (sim, esses que vêm nos bolos de anos, iguais aos que o pai trazia sempre da ribeiro, assim como os do subutteo (era assim que se chamava? qualquer coisa do genero...)), com mega construções de playmobile que se montavam naqueles dias em que a unica preocupação era essa: montar a construção de playmobile- para quê? não sabíamos, mas montávamos sem nunca acabar, e eram mais ou menos assim os nossos dias. quais bonequinhas, quais vestidinhos, quais barbiezinhas, quais quê! (por acaso tive uma barbie e um ken, mas porque adorava as casinhas deles, construir, montar, desmontar, cortar o cabelo à senhora... :) ) enfim, sempre fui "fresca", que era como diziam quando fazia algum disparate.- porquê fresca? não sei.
tu sempre foste mais calminho, nada de "frescuras"... a mãe dizia que sempre quis ter um casal, pelo menos, e que o filho mais velho fosse rapaz, depois rapariga: para que o irmão mais velho cuidasse da irmã, a levasse a sair (sabes uma coisa? a mãe não adivinha que esse dia nunca vai acontecer, os irmãos nunca gostam de "sair" com as irmãs mais novas...temos de lhe dizer que não deu certo essa parte), queria um rapaz que protegesse a irmã contra os maus! assim foi, sempre gostei de dizer que tinha "um irmão mais velho", que era para os meus amiguinhos como uma ameaça feroz que eu utilizava em ultimo recurso se me chateassem muito, até te verem pequenino e magrinho com essa cara de santinho que tens ate hoje, desculpa, mas realmente não metias muito medo...:)
Quando dormíamos no mesmo quarto, eras a minha arma contra os papões, acho que por isso nunca tive qualquer medo desses monstros do escuro verdes e com cheiro a alho que ameaçam as crianças. erámos cumplices das nossas noites à conversa, ou das discussões que só se calavam no sono. das risotas e "tramoias". ficou vazio quando fui dormir sozinha, sentia a tua falta, do teu respirar barulhento e das tuas coisas no espaço de nós. ainda nos sinto cumplices, pequeninos: as vezes vejo nos olhos da mãe nós pequeninos, bebés, pequeninos, a brincar nos dias de brincar, ou a dormir no mesmo quarto, em camas pequeninas, e brinquedos por todo o lado.
Hoje sinto-te grande e vejo-te ainda nas nossas cumplicidades, todas. as de irmãos. desde sempre corremos paralelos- gosto-te tanto por isso. e sei, porque a mãe ja me contou, que morrias de ciumes meus quando nasci, também deve ser uma coisa normal, descansa. Um irmão é um amigo para sempre- porque tem de ser. e tu es uma segurança na minha vida, sabias? sei que um dia, porque a nossa familia é assim pequenina, vou-te ter como unica lembrança de tudo o que vivemos sempre, vou-te olhar e ver a mãe e o pai e os avós e os doces que lambusavas quando eras gordo, e as viagens intermináveis no carro, as lutas e os carrinhos, as explicações de matemática, as músicas e as piscinas de verão, e esses olhos ternurentos de amigo, mesmo quando te enfureces com o mundo. gosto de ti, demasiado, e isso não é coisa precisa de se dizer. parabéns, meu irmao gordo e bébé.
encontramo-nos em casa, cumplices, "como sempre, como dantes."