"eu sou mãe".
iamos para casa, a minha mãe conduzia-me (fez a marginal muito mais vezes nos ultimos dias do que em toda a vida). andei sem cabeça alguns dias, e conduzir exige um estar presente que eu não estava. dizia-me: é nestas alturas que vemos os amigos que temos. o telefone tocava e tocava. e dizia-me: "eu sou mãe", como se isso me explicasse mais do que o que eu já sei sobre o amor que sente por mim. o telefone tocava e eram amigos da minha mãe e eram amigos meus a saber se correu bem. e correu, obrigada. senti o "buraco negro no tempo", que a maria falava, de uma anestesia estranha, vazia, fria, funda, incontrolável, inatingivel, nada. e não senti quase nada de dor, só medo. voltávamos para casa. agora é comemorar! eu estou bem mãe, agora vai ficar tudo bem. mas "eu sou mãe".