Gostava de ter a certeza que a irmã Lúcia foi para um sitio melhor do que era aquele em que estava. Gostava de saber certa a sua fé. Gostava de saber que a paz em que vivia é maior agora, onde quer que seja esse lugar de ir e não voltar. Já acreditei mais na religião católica, também já acreditei menos. é bom ter esta certeza: é sempre uma opção de cada um. e essa opção pode levar a todas as convicções e formas de vida diferentes. A irmã Lúcia tinha um olhar cheio de ternura: não me vou esquecer desse olhar. dessa paz. desta vez sinti a morte diferente das outras. senti a morte pacifica, morte não morte. quase não lhe senti o medo. como se a irmã Lúcia nunca morresse, ou nunca tivesse sido humana a 100%, fosse uma mistura de santidade com ser humano, e acabar é sempre a incógnita mais dificil. neste caso nada acaba nem nada começa, sinto a vida a mudar de sitio: mudar. Tenho a certeza que na imperfeição das naturezas humanas a irmã Lúcia tirou a melhor parte, e vai para o melhor lugar. porque só assim faria sentido a vida devota que levou, contemplativa, dentro de dentro de si, de Deus. sagrada, divina. Tenho estas certezas, que não são certezas, só convicções: a chamada fé? tenho a certeza que onde quer que a irmã Lúcia esteja e onde quer que vá e existindo ou não aquilo em que toda a vida acreditou, aquilo que foi a sua vida, vai estar bem, porque sim. porque só pode ser assim.