17.1.05

um abraço

o pai da ana era grande. tão grande que não cabia nela o orgulho. ainda a vejo hoje a contar-me estorias de quem conviveu de perto com fernando pessoa, orgulhosa do pai maior que resistia ao tempo e a tudo. ainda a vejo a indicar-me uma revista onde lhe aparecia o pai, grande e bonito, que li e saboreei como uma historia de vida ternurenta e cheia. acho que o orgulho é a unica coisa que sobra e que aumenta neste instante. talvez todos os lugares por onde tenham vivido as inesqueciveis memorias de pai e filha. a ana herdou isso do pai: é também uma pessoa grande, capaz de nos orgulhar até não cabermos mais. imagino-a a receber as naturais lamentações, e doi-me ainda não lhe ter dado o meu abraço, sem lamentações, para não tirar o sentido da palavra, de tanto ser ouvida... doi-me sabe-la triste. triste por ter perdido essa referência, essa vida que transbordava vida e estorias e estorias e memorias. a ana é uma das pessoas da minha vida, uma parte da familia que escolhi. e talvez por isso aqui escreva, porque a adoro. porque me lembro que os açores lhe trazem os momentos mais marcantes da vida, com as ilhas em pano de fundo. este foi mais um, daqueles que não se esquecem nem se apagam, para um tempo que é sempre. aninhas, um abraço do tamanho do mundo- que caiba em ti o orgulho e os valores e os leves contigo para sempre, para que nunca (mesmo quando duvidares) percas esse brilho que é so teu.