7.3.05

nua

Gosto que a palavra saudade só exista em português. Gosto de fotografia. E da fotografia de Tom Jobim. Gosto de cappucino. Não gosto de dores. nem de doenças. Gosto de gente. Não gosto de gente a sofrer. Gosto de cores. Gosto de preto. E de branco. De azul e do Blue do Yves Klein. Gosto da Adriana Calcanhotto que inventou esta maneira de nos autobiografarmos. Não gosto de imitar, mas às vezes tem de ser porque só pode ser assim. Gosto de escrever. Gosto de ler. Gosto dos meus amigos e de chocolate. Gosto de pipocas e que chamem pipoca. Não gosto de limitar. Gosto de limites. Gosto de riscos e riscos. Gosto dos afectos. Das saudades. Da ternura. Do amor, o incondicional. Não gosto da solidão por imposição, gosto de estar só. Não gosto da solidão nos olhos dos velhinhos. Não gosto do preconceito nem das preocupações, não gosto do racismo nem da falta de tempo. Gosto do tempo devagar e quente. Dos dias cor de laranja quando o sol se vai embora. Gosto do frio com sol na marginal. E da chuva de braga. Das cores que sobram à passagem da vida lá na quinta. Gosto da Guida e da Francisca: quando a Francisca canta o nome dela. E quando se adivinha a emoção. Gosto do amarelo torrado e do verde que só há lá. Gosto do amarelo que fica em Lisboa. E de lhe chamar a minha cidade amarela. Gosto de Lisboa de Mil Amores. Do Lume, da Llovizna, do Acrobata e de Una Casa. Não gosto dos morangos com açucar. Gosto do verde dos sapos. Não gosto do bom gosto, que é como quem diz gosto das Senhas da Adriana. Gosto do Jack Johnson e do John Mayer, da Norah Jones, de vozes quentes. Gosto de madeira e de pedra. Gosto do Rodrigo Leão e dos The Gift. Do Bento. Gosto do banho a escaldar. Gosto de fumar. Não gosto que fumar faça mal. Gosto do senhor chinês que inventou a escrita. Não gosto que os chineses inventem tudo e não nos deixem nada para inventar. Não gosto que eles sejam tantos. Gosto do Japão. Gosto do Tadao Ando. do respeito que os Japoneses têm pela luz. Gosto de viajar: mesmo que seja só em pensamento. Gosto de imaginar o sol a dobrar a esquina. Gosto de fazer filmes enquanto observo algum desconhecido, de supor a sua vida. Gosto de olhar as pessoas. Gosto de começar um pensamento com “e se...”. Gosto dos olhos bonitos, e dos feios. Gosto do olhar expressivo e pestanas grandes. Gosto de sorrisos. Não gosto de sorrisos falsos. Gosto do alcatruz. Não gosto que de repente toda a gente conheça o nosso cantinho cá da terra. Gosto do Tibete e do Dalai Lama. Gosto de yôga. Não gosto de invasões. Não gosto quando dou por mim a ser má pessoa. Gosto de mudar todos os dias. Não gosto de rotina. Gosto de começar um novo dia diferente. Gosto de crianças: da sua capacidade de serem inteiras. Gosto do Peter Zumthor, e do Siza. Gosto de reiki e de conseguir fazê-lo. Não gosto quando não dá certo. Gosto do mestre. Gosto de gente boa. Não gosto de desistir das pessoas. Gosto de estar perto. Gosto do Dr.Celso e da Lúcia. Gosto de saber que a nossa mente é capaz de tudo. Não gosto de ser esmagada nas discotecas. Não gosto de gente inconsequente, de gente grande que diz disparates sem pensar. Não gosto quando me magoam e não gosto de mentiras. Gosto de confiar e acreditar. Gosto de gostar e não gosto de não gostar. Gosto de ficar deitada no chão a ouvir música. E de acabar uma maquete que ficou boa. Gosto de ser surpreendida. De me surpreender. Gosto quando me fazem surpresas. E não gosto quando me fazem surpresas. Gosto de conhecer pessoas e os seus pensamentos. Gosto de mistérios e de me envolver. Gosto de descobertas e de aventuras- que é como diz o meu horoscopo. Gosto do horoscopo porque só diz coisas boas. Gosto do Pedro Granger porque ele não me liga nenhuma. Acabo de descobrir que não gosto quando me ligam demasiado. Gosto quando me “picam”. Gosto de não ser capaz de tirar os posters do Brad Pitt do armário com medo de crecer. Gosto de meias. Gosto das meias coloridas que a Jana me deu, e da maneira como ela pinta os dias às cores e às fadas. Gosto de abraços. Não gosto de palmadinhas nas costas. Não gosto de abelhas porque elas picam toda a gente sem razão. Gosto de borboletas e de cães, lá ao fundo. Gosto de amarelo. Gosto do Caetano. Gosto de gostar de todos os lugares. Do menino do rio. Não gosto do barulho das melgas e das moscas e das abelhas a aproximarem-se do ouvido: zzzzzZZ. Gosto do brasil e nunca lá fui. Gosto de N.Y. e também nunca lá fui. Gosto de rugas. Gosto das rugas nas fotografias a p&b. Gosto de ter boas notas mas não gosto de ser a melhor. Gosto que os outros tenham boas notas. Gosto de competição para avançar. Gosto de jogar e não gosto de perder. Gosto de comida vegetariana. E de ter deixado de comer carne há tantos anos. Gosto de me demorar quando gosto. Gosto do manahmanah. Não gosto que se chateiem comigo. Não gosto que me chateiem. Não gosto de ver o meu avô triste. E não gostava quando via os meus avós separados por uma cama de hospital, muito menos agora, pela morte. Gosto da vida. Gosto de viver. Gosto das cores dos dias. E do silêncio da noite. Do primeiro azul que traz a cidade na claridade. da estrela da manha. Gosto de brigadeiros. Não gosto de queijo, só o das pizzas e das tostas. Gosto de igrejas. Da imensidão. Não gosto de algumas coisas que alguns padres inventaram por cima da religião católica. Gosto de Jesus que está cá dentro. Gosto que a D. Maria passe a vida feliz, mesmo na solidão dos dias. Gosto da minha familia pequenina: gosto quando o meu pai diz disparates e nos rimos porque sim, gosto quando o meu irmão é irmão, quando a minha mãe não precisa dizer nada. Não gosto quando discutem, nem de pensar na inevitável separação a acontecer. Não gosto de cair em pensamentos mórbidos, mas acontecem: de me imaginar a cair quando estou la em cima de alguma coisa, ou outra pessoa qualquer, de imaginar a vida a ser morte ou de imaginar coisas a correrem mal. Gosto quando esses mesmos pensamentos são cómicos, quando imagino alguém a tropeçar, ou um político que de repente diz as verdades, um cão que fala ou uma beata pronta para a noite. Não gosto do conceito dinheiro. Gosto da paz. Gosto de tocar na loucura e reconhece-la proxima. Gosto da Maryland a cantar fado. e as outras musicas do seu reportório. Gosto de chocapic. Gosto de pessoas interessadas. Gosto de música. de surf. de correr para lugar nenhum.

6 comentários:

Anónimo disse...

gosto muito de te ler..

uma vez escrevi algo do género..mas falei mais do que gosto e não descrevi tudo aquilo que gosto..se não estaria um dia inteiro a escrever..

Gosto de azul, gosto de olhar para o céu, gosto de mar. Gosto de sorrir e que sorriam para mim. Adoro abraços, adoro música. Gosto de viajar, deixando-me levar pelo vento, sem pensar no que vou ver e sentir.Gosto de percorrer longos quilometros de estrada, em silêncio..perdida nos meus pensamentos, invadida pela musica que marca essa viagem, ou simplesmente pelo barulho do motor do carro.Gosto de sol, de verão, de me sentir aquecida pela brisa do ar. Sou fascinada por países quentes, cheios de praias e paisagens em que o verde me inunda os olhos.Gosto de aventuras, de desafios e chegar ao final do dia percebendo que arriscar me fez feliz.Gosto de conhecer pessoas. Gosto de fazer amizades. Gosto muito muito daqueles que estão perto e longe de mim. Gosto de vocês, pessoas especiais que trago no meu coração. Não gosto de quem me fez sofrer ou deixou de me falar sem motivo aparente, mas trago sempre comigo aqueles momentos que passamos, embebidos em sorrisos, côres, cheiros que marcarão para sempre esses tempos.Gosto de ser sentimentalista e de quem o é. Gosto de pequenos gestos, que me alimentam a alma a cada dia. Gosto de simplicidade.Ela acentua a intensidade de cada momento.Gosto de escrever prosa ou poesia. Gosto de ler. Gosto que se lembrem de mim sem eu estar à espera. Gosto de chorar de alegria. Gosto de viver o sonho de alguém como se fosse meu.Gosto de ver o pôr do sol. Gosto de pintar um quadro imaginario. Adoro o calor de um concerto.Gosto de teatro, de cinema. Gosto de arte!Adoro crianças, gosto da sua ingenuidade e inocência.Gosto de ajudar um amigo, um conhecido.Gosto de fazer alguém sorrir.
Não gosto de mentira, falsidade.Não gosto de discuções. Não gosto de violência.
Gosto de pacifismo, com devida conta e medida. Gosto de calma. Não gosto de egoismo.Gosto de me refugiar na noite, gosto de deixar que ela absorva os meus pensamentos. Gosto da Lua, das estrelas que giram em mim.
Gosto de gostar de estar aqui.Gosto de estar rodeada de gente..!

pipa disse...

eu gosto que as pessoas me digam quem são quando falam comigo...

Anónimo disse...

ok, tens razão! Desculpa!

sou a Íris..

Pedro Gabriel disse...

Eu vou gostando de ti... :] mesmo longe e mesmo com atitudes mais ou menos boas ;)

Unknown disse...

Que possa eu sempre dar-te cores e meias coloridas e chamar as fadas com asas brilhantes para que te abracem... Tens sempre a Sra Lua... a mim nela! EU GOSTO DE GOSTAR DE TI!

Anónimo disse...

Gostei TANTO destes dois textos. Tal como gosto sempre tanto de te ler. Como te acabei de dizer, é bom descobrir as pessoas através das palavras, descobrir cumplicidades e revermo-nos assim, em tanta, tanta coisa. Especialmente quando isso era uma coisa que em "presença física" não acontecia. A tua timidez (sobre a qual já tantas vezes li) e a minha "casca" (lembras-te de me mandares a música dos Toranja que se chama assim?) são (ou eram) um impedimento. E as palavras que escreves de certa forma acabam, deitam abaixo esses "muros".
Ao ler-te descubro que gosto de ti. Descubro que és bonita. Que, além de escreveres coisas bonitas, também tu és bonita. Muito. Gosto disso. E gosto de ter o privilégio de poder gostar de te ler. Beijinhos

Tess