5.11.07

(a sós)

choro-te. a solidão não me assusta. a inércia faz-me pensar, o estar a sós é o peso que nos carregamos. há quem goste de carregar pesos, e há os que são fracos de força, não suportam o peso dos ombros nos ombros cansados cansados. choro-te. estar a sós é virar o avesso, falar a sós em linguagens próprias que se comunicam a sós. o movimento dos outros é um corpo uniformemente rápido e ausente. por nós o tempo estagna. (penso em ti: carrego-te como peso leve nos ombros pesados pesados. de outros pesos) estar a sós não me assusta. e sou fraca. queria-nos tempo. cria-nos tempo. assusta-me antes o movimento do peso dos outros. a existência dos dias desorientados e sós. a sós. a nossa ironia.


"Todas as imagens que nos olham também retraem o seu olhar, quer nos pormenores e nas sombras, quer na luminosidade e na completude do rosto. No entanto, é neste retraímento que reside um dos segredos da dádiva"

Jean-Luc Nancy
in Festival Temps D'images

4 comentários:

Cidadão do Mundo disse...

Já tinha saudades de te "ler nas entrelinhas"... há praticamente 2 meses que não escreves!


"A ausência faz ao amor o que o vento faz à labareda: aumenta a grande e extingue a pequena".

disse...

gosto tanto das tuas palavras

Anónimo disse...

Gosto muito do que escreves Pipa, é profundo e comovente. Às vezes não percebo tudo mas o problema deve ser meu. :-)

maria disse...

já li e reli isto mil vezes. acho que é um dos teus melhores textos, pi. gosto de ti até ao céu do céu! gosto que sejas tão forte e tão fraca, tudo na mesma medida. Gosto da tua loucura, do teu fingimento sábio da vida que, afinal, não é nada mais do que o teu medo de não chegares a viver tudo aquilo que, já desconfias, existe para ti. Não tenhas medo e chora. A vida é tua! deixa que o peso seja leve. e o que for pesado demais, tens outro par de ombros aqui ;)