(a sós)
choro-te. a solidão não me assusta. a inércia faz-me pensar, o estar a sós é o peso que nos carregamos. há quem goste de carregar pesos, e há os que são fracos de força, não suportam o peso dos ombros nos ombros cansados cansados. choro-te. estar a sós é virar o avesso, falar a sós em linguagens próprias que se comunicam a sós. o movimento dos outros é um corpo uniformemente rápido e ausente. por nós o tempo estagna. (penso em ti: carrego-te como peso leve nos ombros pesados pesados. de outros pesos) estar a sós não me assusta. e sou fraca. queria-nos tempo. cria-nos tempo. assusta-me antes o movimento do peso dos outros. a existência dos dias desorientados e sós. a sós. a nossa ironia.
"Todas as imagens que nos olham também retraem o seu olhar, quer nos pormenores e nas sombras, quer na luminosidade e na completude do rosto. No entanto, é neste retraímento que reside um dos segredos da dádiva"
Jean-Luc Nancy
in Festival Temps D'images
4 comentários:
Já tinha saudades de te "ler nas entrelinhas"... há praticamente 2 meses que não escreves!
"A ausência faz ao amor o que o vento faz à labareda: aumenta a grande e extingue a pequena".
gosto tanto das tuas palavras
Gosto muito do que escreves Pipa, é profundo e comovente. Às vezes não percebo tudo mas o problema deve ser meu. :-)
já li e reli isto mil vezes. acho que é um dos teus melhores textos, pi. gosto de ti até ao céu do céu! gosto que sejas tão forte e tão fraca, tudo na mesma medida. Gosto da tua loucura, do teu fingimento sábio da vida que, afinal, não é nada mais do que o teu medo de não chegares a viver tudo aquilo que, já desconfias, existe para ti. Não tenhas medo e chora. A vida é tua! deixa que o peso seja leve. e o que for pesado demais, tens outro par de ombros aqui ;)
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