20.12.04

desenho-te

Vejo na luz que agora é tua o desenho da perfeição que te contorna o corpo e te torna dela. Deixa-me ser eu a desenhar-te. O quarto tem cores escuras quentes, mas até podia não ter: a luz que lhe bate inclinada e caída é quente como o sol, é quente como o quarto quente das paredes quentes. Vejo-te na cama, deitado e perfeito, e desenho-te na luz quente do quarto quente. Desenho-te os contornos teus e meus, as linhas que te fazem existir perfeito. Desenho-te. És perfeito. A cama está usada, mas fica bem assim. O quarto é quente de paredes gastas, a janela é janela e é perfeita, deixa entrar a vida, a luz intacta: o tempo parou enquanto passou por nós, sentiste? amarelo e quente. No espaço que nos separa forte, olhas-me enquanto te ajeitas a ti mesmo, nesse olhar tens tudo e o desenho é nada. és tudo. perfeito como a linha que te desenha a imperfeição.

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