15.12.04

Sabia de cor

Era noite. Aquele som entrava seguro a combater o que era frágil. Sabia-o de cor. Sabia de cor os acordes que eram dele e só dele, cada curva dos lugares que o faziam. O chão por onde me levava. Aquele som entrava seguro e a combater. Tornou-se dono de um espaço e alterou-o. Alterou as memórias que pairavam no ar desse espaço cheio de ar e som. O som, aquele. Entrou e adormeceu-me, como pózinhos mágicos. Não sei bem para onde fui, mas adormeci no som daquele som que me levou para dentro dele próprio. Pensei que o sabia de cor. Até conhecer as entrelinhas daquilo que o faz existir, a cada tempo. Era um lugar mágico, e talvez por isso, a memória não se quer lembrar, para não estragar. Andei por la a noite toda.

1 comentário:

maria disse...

Esta noite dormi mal. Deve ser por isso qu hoje me sinto mais triste, mais perto do cansaço. Na linha do trapézio. Acordei àquela hora em que ainda é cedo demais para ser já dia, mas também já não deve ser bem a noite escuramente absurda. Qualquer coisa nesse lugar a que chamamos madrugada. Fiquei ali a olhar o tecto, sem poder fazer barulho, para não acordar ninguém (e é nestas alturas que mais sinto falta d ter uma casa só minha, para ter as insónias que quiser e atacar a cozinha à vontade ou cortar o silêncio com as teclas das palavras). Mas fiquei quieta, sem me mexer, a sentir-me muito pequenina num lugar muito grande. Na madrugada. Onde o espaço é silencioso demais, violento demais para se presenciar sozinho. Deve ser por isso que a essa hora todas as pessoas dormem e as que estão acordadas, deambulam pelas ruas com amigos ou assistem, romanticamente ;), ao nascer do dia, a dois. Seja como for, estava ali. E assisti à madrugada. Depois, foi como esse som. "Tornou-se dono de um espaço e alterou-o". Era o Caetano na minha cabeça. Ou ainda dentro do carro da Té a chegar a casa. Ficou ali a cantar. E, por fim, adormeceu-me.