30.3.05

Ámen

Aprende todas as regras, para saberes
como infringi-las correctamente.

Dalai Lama

28.3.05

imobilidade



ama e não procurarás
pára para viver,
e cega se tudo queres ver

amar é descanso de busca

deixa de pensar e acredita
desprende-te de ti
e assim te encontrarás

amar é descanso de busca.

Anna Hatherly

26.3.05

sabe bem voltar-te a ver

ontem foi assim um verdadeiro "sabe bem voltar-te a ver", mesmo que no vasco da gama e entre comboios que são rápidos e nós com pressa para o almoço de familía da jana, mesmo que no meio da cidade estranha ao teu redor porque tu pertences ao verde que também é nosso e dos nossos sonhos, guida. dar um abraço a um amigo que não se vê há tanto tempo é um oásis... que procuramos e corremos e encontramos com todas as nossas forças, porque precisamos disso para viver. é o tempo a esvaziar-se na pressa de existirmos. o tempo a não existir contra o tempo que voa sobre nós. tenho descoberto que pelos amigos não há tempo nem pressas nem sono nem preguiça nem falta de forças que existam em nós. como as marés e as correntes que se encontram lá ao fundo, ainda que seja através delas que o vento sopre ao contrário. "sabe bem voltar-te a ver", não podia ser de outra pessoa.

25.3.05

Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa na nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade da nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso.

Antoine de Saint-Exupéry

palminhas!!

e foi bom o palma, claro. já tinha saudades daquela eloquência em palco, ou só de o ouvir a falar, divagar, rir, ser, palma. tinha saudades do palma! ele é assim, da-nos arrepios e emoçoes e vontades que não acabam. dá-nos sedes e pressas e "verões de 3 meses pela frente" como dizia o David Mourão Ferreira. palma é palma, de chegar atrasado com ar de quem vem de um inter-rail ou coisa parecida, meio timido meio em casa meio palma, meio amigo meio genio nas palavras, nas músicas. ouvi-lo é sempre cair no interior da melodia e percorrer-nos, ir ao fundo e voltar em viagens de instantes como nos sonhos, no meio de qualquer lugar, seja numa fnac ou seja o teatro mais intimista. (se quiserem uma melhor descrição da essencia do palma leiam o texto da contra-capa do livro dele que foi lançado,"na terra dos sonhos", organização de João Carlos Callixto e Jorge Palma, edições quasi, como não podia deixar de ser.)

enfim... o palma é um modesto: disse que não é um poeta!

23.3.05

Piada Ribeirinha II

Havia um homem tão pequeno, tão pequeno, mas tão pequeno...
que em vez de andar de metro...andava de milimetro..... eheh!

once and again

o episodio de hoje do Começar de Novo falava da doença de alzheimer. a velhice assusta-me imenso. não sei se por medo ou por preguiça. medo de crescer e envelhecer e medo de ver os outros envelhecerem à minha volta. medo de perder a lucidez. medo de ver os meus pais perderem a lucidez. por outro lado, acho que faz tanto parte do rio da vida essa coisa de ser filha, ser mãe, e voltar a ser filha e mãe. assustador e ternurento. essa parte de ter de cuidar dos pais, dos velhinhos que conhecemos novos e fortes e adultos e imagem do nosso futuro, exemplos de vida. (fez-me chorar este episodio.) sei la, a velhice mexe comigo. talvez por estar acostumada a conhecer-lhes a solidão sem memórias certas. fico a ler essas bibliotecas tesouros que eles são, mesmo na falta de lucidez, as tatuagens histórias gravadas em cada ruga. e também, quando vejo a fragilidade nos ossos frágeis memórias doi-me qualquer saudade cá dentro do que foram, que conheci, que alguém conheceu e gostou. doi-me e deixa-me feliz por eles ainda existirem ali olhos vivos pessoas palavras à minha frente.
quando vi a lily pedir à mãe para ficar em casa dela para poder cuidar dela porque queria cuidar dela (a mãe da lily morava sozinha e está a ter sintomas de alzheimer), quando vi a lily abdicar da vida passifica e da vida que era de mãe porque só tinha filhas continuar a ser de mãe porque a mãe dela precisa agora de cuidados de mãe, chorei. porque isso é humano, mesmo que em filme ou série, sei que acontece por aí e ainda bem que é assim que há gente assim, como a "lily". mas nem tudo é tão facil assim, quando não há casa dos filhos há os lares e aí a ternura é outra... agradece-se às auxiliares de todo o mundo o carinho enorme que têm com estes velhinhos que não se lembram nem do proprio nome, nem da vida que é vida e é a deles, nem de ninguém nem do que foram nem do que são, nem so futuro escondido atrás da porta que não se lembram.
o episodio de hoje acabou bem, como sempre. a mãe da lily aceitou morar com ela e agora devem estar umas 10 pessoas na mesma casa que não é assim tão grande mas tudo se resolve e também, em séries americanas tudo é possivel claro, a vida impossivel torna-se o dia a dia mais banal!

22.3.05

na terra dos sonhos


melhor do que só o palma é o palma, a mafalda veiga e o jorge reis sá juntos.
só coisas boas por metro quadrado!

"Simple Things"

It's an easy ride to roam
You'll never walk alone
Natuarally we blew
Simple things we say
Everyday we find the way
Seems like we've opened up the door
Feels like we've walked this way before
Natuarally we blew
Simple things you say
Everyday you'll find the way
It amazes
Everyday

Zero 7 - Simple Things

21.3.05

djavan é show dji bola!

vim agora do djavan. é incrivel a massa populacional de brasileiros que de repente está no nosso país. não que isso seja mau, pelo contrario, adoro o carisma "dessi povo" mas é no minimo caricato ir assim a um concerto de algum brasileiro, ou uma peça de brasileiros, e de repente estarmos rodeados de tal maneira que nos sentimos um deles, ou seja, que tão facilmente nos sentimos um só, a mesma lingua e o mesmo ser. nunca tinha visto o djavan ao vivo, e já tinha (ou só tinha) ouvido o djavan ao vivo. gostei imenso. acho que podia, porque podia e ele era capaz, estar melhor- mas não estou em posição de criticar. :) adorei. porque ele cantou os grandes êxitos, porque ele tem uma voz que entra sempre bem, porque não estava à espera de ir (obrigada por se terem lembrado da pipa...;)), porque ele é brasileiro e eu não sei se já tinha dito mas: [adoro o carisma dessi povo!]
o djavan não me lembra uma fase qualquer da minha vida, lembra-me diferentes fases, espalhadas pelo tempo de mim, fragmentos, viagens, pessoas, emoções, ambientes, sempre de uma maneira leve, posso até dizer feliz. djavan é tudo dji bom, show dji bola!
e mais uma vez a música é isto, a mistura perfeita e embalada das emoções cá de dentro, de todo o lado e tão na corda bamba do que somos ao ouvi-la.

20.3.05

boas

F É R I A S ! !

19.3.05

a si

Chamavas os bois com a mão
Mais mansa. A mão
Com que adubavas a terra
Com que puxavas o banco
Para a frente da lareira
Com que me mediste
Palmo a palmo na infância.


Daniel Faria in “Dos Líquidos”

as horas

olhar a vida de frente,
olhá-la sempre de frente,
e saber

como ela é.
finalmente...sabê-lo.
e amá-la pelo que ela é,
e depois...

pô-la de lado.
entre nós sempre os anos...

os anos, sempre.
sempre...

...o amor.
sempre...
...as horas.

Michael Cunningham in “the hours”

sentidos dispersos


este movimento do vento nas coisas mostra-me a vida a existir. como os gestos das gentes. como os sentidos que se têm, em movimento. dispersos. inteiros. os sentidos dos ventos fortes da vida. este vento sabe a vento quente que me toca inteira, sabe a voar. sabe ao movimento doce da vida nos dias leves.

18.3.05

clandestino


jardim botânico do Rio

(porque a adriana calcanhotto me faz lembrar este lugar, que quero conhecer um dia:)

CLANDESTINO

vou falar por enigmas.
apagar as pistas visíveis.
cair na clandestinidade.
descer de pára-quedas/camuflado/
numa clareira clandestina
da mata atlântica.

já não me habita mais nenhuma utopia.
animal em extinção,
quero praticar poesia
- a menos culpada de todas as ocupações.

já não me habita mais nenhuma utopia.
meu desejo pragmático-radical
é o estabelecimento de uma reserva de ecologia
- quem aqui diz estabelecimento diz escavação -
que arrancará a erva daninha do sentido ao pé-da-letra,
capinará o cansanção dos positivismos e literalismos,
inseminará e disseminará metáforas,
cuidará da polinização cruzada,
cultivará hibridismos bolados pela engenharia genética,
adubará e corrigirá a acidez do solo,
preparará a dosagem adequada de calcário,
utilizará o composto orgânico
excrementado
pelas minhocas fornicadoras cegas
e propagará plantas por alporgue
ou por enxertia.

já não me habita mais nenhuma utopia.

sem recorrer
ao carro alegórico:
olhar o que é,
como é, por natureza, indefinido.
quero porque quero o êxtase,
uma réplica reversora da república de Platão
agora expulsando para sempre a não-poesia
da metemorfose do mundo.

já não me habita mais nenhuma utopia.
bico do beija-flor suga glicose
no camarão
em flor.

(de um livro em preparação, sem nome fixo)


Waly Salomão
para Adriana Calcanhotto
em "Lábia", 1998

17.3.05

isto ta bonito ta!

hoje fui ao hospital fazer um exame, para além de só entrar às 11h quando tinha marcação feita para as 9h, fui marcar uma consulta para quando houvesse vagas e, adivinhe-se para quando é que há vagas num hospital público considerado o melhor na área de cardiologia do nosso país?! 30 de Março, de 2006! :) sim sim... então tá, tenho consulta daqui a pouco mais de um ano! o que vale é que o que eu tenho não é grave, mas penso em outros casos piores, que remedio senão aguentarem-se um aninho à bomboca!... são os serviços do nosso país, sempre muito eficientes. é o que, falta de médicos?? baixem as médias que não deixam ninguém entrar, há tantas pessoas que vão parar a cursos que não gostam porque não tiveram média para entrar em medicina (nem sempre a media quer dizer jeito e talento.. acho eu)!! depois é isto que se vê... consultas com um ano de atraso para mostrar um examezinho! bonito...

16.3.05

diz que já sei...

"Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora"


Ana Carolina "pra rua me levar" (em brasileiro claro...)

15.3.05

sol de março

Dos laivos brancos que há no céu pra enfeitar
descendo à fruta já madura do pomar
e arrufando nas varandas
asas negras como as tranças
das meninas que à janela se vão pentear

há campos verdes onde cresce o malmequer
branco, amarelo com o bico o vai colher
e voltando prás varandas
com a flor enfeita as tranças
das meninas que à janela se vão recolher

um sol de Março
um vento fresco
e o canto alegre de fazer o ninho nos beirais
um campo verde
um sol aceso
e as meninas de outros tempos com seus aventais

de telha em telha saltitando sem voar
no espaço aberto agitando o seu cantar
trazem côr para as varandas
trazem laços para as tranças
das meninas que à janela se vão encantar
o sol demora no calor que faz dormir
o canto é lento é lindo é calma a descobrir
e as meninas nas varandas
os cabelos já sem tranças
debruçadas para os laços que viram cair

um sol de Março
um vento fresco
e o canto alegre de fazer o ninho nos beirais
um campo verde
um sol aceso
e as meninas de outros tempos com seus aventais

Mafalda Veiga


(de repente vem-me uma imagem da ju, a dançar. em qualquer lugar, ao ritmo certo desta musica... memórias de danças e risos, noites.)

vontade

é por estas e por outras é que tenho uma vontade estupida de ser mãe, só por uma questão de ser, conhecer esse outro lado da vida, viver momentos como esses do pedro, como os que a rita ferro rodrigues tão bem descreveu no seu blog, como os mesmos momentos (d)escritos de todas as maneiras diferentes por todas as pessoas diferentes, mas com o mesmo acontecer. só a vida a acontecer. há dias em que dá uma vontade de deixar de ser filha para passar a ser mãe, vontade de viver para outra vida que não a minha... vontade...

mas como nada na minha vida aponta para que isso aconteça tão cedo....

fico na vontade!

14.3.05

leva-me ao fundo

"leva-me ao fundo
de ti.

conta-me dos mares,
dos sonhos,
da espuma do mar.

ensina-me a topografia
do teu corpo,
leva-me ao fundo
de ti."

alexandre monteiro

12.3.05

alma


fotografia de Antonio


"O derradeiro mistério somos nós
próprios. Depois de termos pesado o
Sol e medido os passos da Lua e
delineado minuciosamente os
sete céus, estrela a estrela, restamos
ainda nós próprios. Quem poderá
calcular a órbita da sua própria alma?"

Óscar Wilde

conheceram-se por acaso.


antes de se conhecerem: conheceram-se por acaso. eles escreviam-se em cartas imaginárias, em vidas imaginárias, e conheceram-se por acaso. não eram os unicos, porque a vida sempre fez destas danças trocadas ao vento por quem sente, sentiam-se sozinhos nos dias. havia momentos em que se sabiam existir um ao outro. era como se a existência um do outro fosse a matéria que os mantinha vivos e sonhadores. era como se o tempo lhes corresse nas veias apressado e eles corressem atrás dele, incapazes de lhe tocar. conheceram-se por acaso, antes de se conhecerem. tocavam-se nas entrelhinhas das cartas imaginárias que escreviam. quando se escreviam, era desde sempre. às vezes, sentiam-se um ao outro na pele nervosa que doía de vontade. quando iam dormir, a solidão invadia-os em cacos e pozinhos mágicos de sono, sonhavam-se. (antes de se conhecerem.) e a vida era mais real ali. fácil fácil como a vontade fácil de serem exactos quem eram. havia dias em que as horas não existiam, os dias não existiam: corriam as horas pelas horas na vontade do sono que trazia o sonho e a vontade de se tocarem, de olhos fechados. sentiam-se loucos. e a loucura era a melhor certeza na obliquidade serena dos dias, esperavam. quando se sonhavam, conheciam o sorriso sincero da espontaneidade, sabiam existir-se em vidas distintas, sentiam-se. eles tinham as certezas de um tempo para sempre neles. faziam planos que eram os mesmos e riam-se. tinham formas de ser parecidas, tinham os mesmos gestos e os mesmos jeitos, o riso não, completavam-se como se encaixavam perfeitos nos sonos sonhos sonhados um do outro. antes de se conhecerem, ja se conheciam em danças lentas e leves em que se tornavam um só corpo, moldado, um. agora, quando é à tarde, fecho os olhos e ainda te vejo. diziam-se, quando os dias eram maiores, quando a sede era a de sempre. adoravam-se nos imaginários sedutores e morriam de vontades. conheceram-se por acaso: cruzaram-se, na viagem de volta para a casa e para o sono e para a vida feliz- verdadeira- que construiram real. olharam-se e reconheceram-se de si a si mesmos, era a vida a trocar-lhes as voltas, no caminho certo certo dos passos certos, das linhas certas como as entrelinhas que eram deles, certas. olharam-se. enquanto seguiam para lados opostos, na mesma vontade, no mesmo sonho, na mesma vida. olharam-se. sentiram-se. comoveram-se. viveram uma vida nos olhos um do outro. amavam-se. como hoje. seguiam caminhos opostos nos passos inconscientes. houve um momento em que se olharam eternamente. pararam. e era como se o vazio de uma vida se enchesse de uma matéria qualquer, sentiram-se um ao outro, para sempre.

11.3.05

o quê?

ontem a noite na sic estava a dar o flash de há não sei quantos anos atrás, o entrevistado era o Pedro Granger, e lá pelo meio passaram o magnifico video clip da Mafalda (cheio de gente gira :) ), "uma gota". Enquanto passavam o video clip iam rodando umas frases em rodapé, entre elas uma dizia: "Pedro Granger foi o fundador do clube de fãs da Mafalda Veiga". Pára tudo!
Quê?? Pedro Granger foi o fundador do clube de fãs da Mafalda Veiga?

Tá Malee!! mas que é isto?? ai o menino.... (se o ricardo sabe disto há marosca...)

10.3.05

sempre achei que enfrentar os medos fosse a melhor maneira de (n)os vencermos.

"life goes easy on me..."

The Blower's Daughter

and so it is
just like you said it would be
life goes easy on me
most of the time
and so it is
the shorter story
no love no glory
no hero in her skies
i can't take my eyes off of you
and so it is
just like you said it should be
we'll both forget the breeze
most of the time
and so it is
the colder water
the blower's daughter
the pupil in denial
i can't take my eyes off of you
did I say that I loathe you?
did I say that I want toleave it all behind?
i can't take my mind off of you
my mind'
til I find somebody new

Damien Rice in "O"


(esta música é tão, tão, tão gira. especial.
obrigada ao Pedro Ribeiro que me deu a conhecer o Damien.
tenho ouvido imenso: é especial. "life goes easy on me... most of the time!")

9.3.05

Interrogação



É alucinação este arrepio
no corpo movido a pensamentos,
palavras,
que se aglomeram apressadamente,
imagens,
sons,
memória falível,

Apenas porque pensei ouvir-te ?


Silvia Chueire

tenho SONO...

...se há coisa que não gosto é de ir dormir a saber que vou dormir pouquissimo... azarito!

é como me diziam na escola primária: "não gostas? comes mais!!" (o que eu sofria com aquelas sopas horrendas...)

8.3.05

curiosidades...

Descobri duas coisas 'interessantissimas' para a vida deste blog:

Primeiro--» existe uma Oração com o nome do meu blog: (cá vai)

Oração de todos os lugares

Bem-aventurado é o lugar,
a casa e o coração,
e bem-aventurada a cidade,
a montanha, o refúgio,
a caverna e o vale,
a terra e o mar,
o prado e a ilha –
onde se haja feito menção de
e celebrado Seu louvor.


Segundo---» existe uma música com o nome do meu blog: (cá vai)

Todos os Lugares

freqüentas as minhas mais
estranhas fantasias
e todas as manhãs
és o meu pão e elite (pão e elite?)
me salvas do jejum
nas madrugadas frias
e à noite sempre volto a te pedir:
me aceite

não venho de lugar algum
especialmente
pois já passei por todos os lugares
eu muito sinto tudo isso e sei que sentes
se acaso não concordo quando me acordares

quero-te mais do que imaginas ser possível
te trouxe um búzio mágico dessa viagem
marinha melodia ao pé do teu ouvido
já que pensas que sou um marinheiro audaz

faça de conta
que nada disso conta
que não importa exceto
estarmos outra vez aqui
abra-me novamente a sua porta
pois eu jamais parti

(Sueli Costa)


Só espero estar a dar melhor uso ao nome do que este ultimo exemplo.... música mais estranha essa aí cara...:)

Mulher


Foto: Abedin Taherkenareh/EPA

Uma mulher iraniana
coberta com um "shador"
fotografada em Teerão
no dia em que se celebra o
Dia Internacional da Mulher.

7.3.05

nua II

Gosto do sal colado à pele. Gosto de casas e tectos e planos e pátios e água. Gosto do som da água. De me demorar num abraço. Gosto do ser e da palavra eterno. Gosto do sabor a sal. Gosto de brincar. da Galé e de Marvão. Gosto de pessoas queridas, e de pessoas com máscaras de más quando não são: e de descobrir isso, de descobrir sorrisos lá dentro. Gosto do bairro alto, do castelo e de alfama. Gosto de teatros. Gosto de camarins e gosto do nervoso de entrar em palco. Nos outros e em mim. Gosto de ballet: das minhas pontas, das musicas que ainda hoje me trazem os passos silênciosos em volta de si. gosto das recordações. E da memória. Gosto do chapitô e de jantar no restô. Gosto de ter saudades. Gosto de ter tempo. Não gosto de andar à toa. Gosto de me perder. Gosto de pintar. Gosto de desafios. Não gosto que saibam tudo de mim. Não gosto de xila. Gosto de sintra no inverno e da lagoa azul. Não gosto de manga. Não gosto que me controlem. Gosto da liberdade limitada quando finjo que os limites não existem. Gosto do Matisse e do Degas. Gosto da Viera da Silva e do Pullock. Gosto de arte e da criar-te.Gosto do Porto. Não gosto quando me perco no Porto. Não gosto de vodka. Não gosto de gin tónico. Gosto de cerveja gelada e de vinho tinto meio morno. Gosto de coca-cola, ice tea green e gostava de café. Gosto do Rui Chafes. Gosto de dormir na praia e acordar torrada. Gosto de receber cartas e emails que não sejam forwards. Gosto de timing e de tê-lo. Gosto de piadas secas (as “piadas ribeirinhas”). Gosto do prédio amarelo. Gosto de tascas e de évora. Gosto dos alentejanos. Gosto do "nosso" clube de fãs da Mafalda. Gosto de planícies e das estrelas do alentejo. Gosto da Ju a dar ordens. Gosto de caipirinha. Gosto do pico e de ter subido lá acima. Gosto da Mafalda Veiga. Gosto de ter amigos de muito tempo. Não gosto de música pimba. Gosto de conduzir. Gosto de viagens sem destino. Gosto quando está frio la fora e o carro está quentinho. Não gosto de bichos de prata. Gosto de acampar. Gosto da essência das coisas. Só às vezes é que gosto de exageros. Não gosto que haja fome. Nem doenças. Não gosto de ter de mentir. Gosto das sombras dos passos no chão. Gosto de chão. Gosto das coisas boas da Té, e de todas as coisas boas que a Mafalda me ensinou. Não gosto de más noticias: nem de telefonemas com más noticias. Gosto de guitarras e gostava de saber tocar. Não gosto de depender do telemovel. Gosto de ser tocada por quem gosto, e de mãos. Gosto de dar prazer aos outros. Gosto de festinhas na cabeça. Gosto de massagens. Gosto que a Té ainda me esteja a dever umas. Não gosto de violações a mulheres e a crianças. Gosto do gato fedorento. Gosto do Jorge Reis-Sá e da Rita Ferro Rodrigues a escreverem. Gosto das piadas da Janica. Não gosto de fazer directas quando tenho sono. Gosto de dormir. Não gosto de depender da sorte. Gosto da Ella Fitzgerald. Não gosto dos piropos dos homens das obras, a não ser que sejam especialmente trabalhados para terem piada. Não gosto de velhos rebarbados. Gosto da Amelie e das cores da Amelie. Gosto do dramatismo do José Luis Peixoto. Gosto do chile e gostava de pisar aquela terra. Gosto do Ché. Gosto da pureza do budismo. do zen. Não gosto de pensar no futuro das crianças deficientes. Não gosto do cancro nem da morte que lhe está associada. Gosto do momento. Não gosto da capacidade que um momento tem de fazer o futuro incerto e gosto da ideia do futuro incerto. Gosto da Diana e da Rita e da Inês e da Inês e da Xinho e do Filipe e do Gravito e da Sofia e da Martinha e do Erick e dos outros que são daqui e que gosto. Gosto da minha terra e de ser ao pé do mar. Gosto da minha turma deste ano: e de ter conhecido o Gonçalo (gosto de pessoas sinceras) e o Pedro e o Pedro e a Ana e a aasul. Gosto da aasul. Gosto das orações da aasul e dos velhinhos. Gosto de voluntariado e de gente que faz voluntariado. Gosto da Maria a cantar e tenho saudades. Não gosto de despedidas para sempre. Gosto do João desafinado a cantar a menina das tranças pretas. Gosto que o João saiba tudo e não gosto que o João saiba tudo. Não gosto de saber que alguém não teve infância. Gosto da palavra sempre. Gosto da Maria Bethania em maricotinha ao vivo. Gosto dos italianos. Gosto do Jamiroquai. Não gosto de ainda não ter encontrado um chinês bonito. Gosto de malucos. Gosto da Rita Lee, da Fernanda Young, da Vera Mantero, dos projectos do Dean e de todas as pessoas que, diferentes, fazem avançar o mundo. Gosto da diferença. Gosto de beijos. de desejos. Gosto da parte secreta de tudo. Mas não gosto quando me contam aqueles segredos terriveis e perturbadores. Gosto de ouvir, aprender e aconselhar. Gosto de ser amiga. Gosto que confiem em mim. Gosto de ajudar. Não gosto de extraterrestres verdes com um olho. (Se tiverem dois olhos ainda escapa...) Gosto do Souto Moura. Gosto de estórias e memórias de quem já viveu algumas coisas. Gosto de pessoas frias que são quentes por dentro. Gosto do cheiro dos bébés, da praia, do chocolate quente, dos chás, do herbal essences, do light blue, dos morangos, da manha, de roupa nova, das avós, do café, das tintas acrílicas, da felicidade, da vida. Não gosto do cheiro da gasolina, dos cigarros dos outros, do queijo da serra, do whiskey, do ferro a soldar, da morcela. (esta ultima frase deixou-me mal disposta...) Gosto do Sporting. Não gosto do Benfica. Gosto do calor do sul de espanha. Gosto do anoitecer. Gosto de Barcelona. Não gosto de Sashimi nem de sushi: não gosto de peixe cru. Gosto de quente e de pele. Gosto do Ethan Hawk e da Julie Delpy em before sunrise e before sunset: gosto de imaginar que aquilo pode acontecer, gosto do perfil dos personagens e da banalidade simples da vida, gosto de me descobrir na "Celine" mas não gosto de descobrir com ela o quanto também eu sou neurótica e quase incapaz de me entregar. Gosto de misticismo. Gosto de ter medo e não gosto de ter medo. ele existe. Gosto de gritar, faz bem. Gosto de ouvir quando todos falam. e ainda não gosto de falar quando todos ouvem, fico com vergonha. Gosto de tribos. Gosto da India e de ter um primo "maluco" que mora lá: de não ser a ovelha mais negra da familia. Não gosto de droga que estraga familias. Gosto do meu padrinho. Não gosto que ele more longe. Gosto de pensar na ideia de um inter-rail, de um ano em voluntariado fora de portugal, do mundo ser a dois passos de casa. Gosto de ecologia e de renovar, reconstruir (re...)... Não gosto de hipocrisia. Gosto de competência. De vontade. De energia cinética. Não gosto quando me subestimam. Gosto de ter a certeza do que sou. Não gosto de ser preguiçosa. Gosto da meia lua em forma de queijo. Gosto de quem me está a ler porque tem paciência. Não gosto quando espero respostas e as pessoas não falam, não respondem, não são. Gosto do silêncio. Não gosto do silêncio incomodativo entre amizades. Gosto que a Margarida esteja a acabar medicina. Gosto do mar e da Sophia. Gosto de estrada. Gosto de me rir. Não gosto do meu sorriso. Gosto de luz quente amarela torrada. Da luz de Lisboa nas coisas. Não gosto de estar branca. Não gosto quando não se lembram do meu nome. Gosto dos meus amigos felizes. Gosto da luz que a arquitectura é capaz de fazer. Gosto do que ainda não existe. de pensar que ainda posso fazer uma casa, escrever um livro, pintar muitos quadros. Gosto de pensar que posso mudar o mundo. Não gosto de me sentir inutil. Gosto de ganhar dinheiro mas gosto ainda mais de gasta-lo. Gosto da Laurinda Alves porque nunca li nada dela que não tivesse gostado. Gosto dos Açores e da Ana Moitinho. Do Pedro e da Cuca. Gosto de sentir o vento quente de braços abertos. Gosto de pessoas divertidas. Gosto de puffs espalhados pelo chão e de redes brasileiras. Gosto de desenhar, pessoas e gestos, ambientes. Gosto de música. e da lua. de relva. de areia, areia quente a queimar os pés. Gosto que me emocionem e que me façam mexer os sentidos, remexer a vida, ir ao fundo. Gosto que a vida seja para sempre. e de me despir aqui, inteira.

nua

Gosto que a palavra saudade só exista em português. Gosto de fotografia. E da fotografia de Tom Jobim. Gosto de cappucino. Não gosto de dores. nem de doenças. Gosto de gente. Não gosto de gente a sofrer. Gosto de cores. Gosto de preto. E de branco. De azul e do Blue do Yves Klein. Gosto da Adriana Calcanhotto que inventou esta maneira de nos autobiografarmos. Não gosto de imitar, mas às vezes tem de ser porque só pode ser assim. Gosto de escrever. Gosto de ler. Gosto dos meus amigos e de chocolate. Gosto de pipocas e que chamem pipoca. Não gosto de limitar. Gosto de limites. Gosto de riscos e riscos. Gosto dos afectos. Das saudades. Da ternura. Do amor, o incondicional. Não gosto da solidão por imposição, gosto de estar só. Não gosto da solidão nos olhos dos velhinhos. Não gosto do preconceito nem das preocupações, não gosto do racismo nem da falta de tempo. Gosto do tempo devagar e quente. Dos dias cor de laranja quando o sol se vai embora. Gosto do frio com sol na marginal. E da chuva de braga. Das cores que sobram à passagem da vida lá na quinta. Gosto da Guida e da Francisca: quando a Francisca canta o nome dela. E quando se adivinha a emoção. Gosto do amarelo torrado e do verde que só há lá. Gosto do amarelo que fica em Lisboa. E de lhe chamar a minha cidade amarela. Gosto de Lisboa de Mil Amores. Do Lume, da Llovizna, do Acrobata e de Una Casa. Não gosto dos morangos com açucar. Gosto do verde dos sapos. Não gosto do bom gosto, que é como quem diz gosto das Senhas da Adriana. Gosto do Jack Johnson e do John Mayer, da Norah Jones, de vozes quentes. Gosto de madeira e de pedra. Gosto do Rodrigo Leão e dos The Gift. Do Bento. Gosto do banho a escaldar. Gosto de fumar. Não gosto que fumar faça mal. Gosto do senhor chinês que inventou a escrita. Não gosto que os chineses inventem tudo e não nos deixem nada para inventar. Não gosto que eles sejam tantos. Gosto do Japão. Gosto do Tadao Ando. do respeito que os Japoneses têm pela luz. Gosto de viajar: mesmo que seja só em pensamento. Gosto de imaginar o sol a dobrar a esquina. Gosto de fazer filmes enquanto observo algum desconhecido, de supor a sua vida. Gosto de olhar as pessoas. Gosto de começar um pensamento com “e se...”. Gosto dos olhos bonitos, e dos feios. Gosto do olhar expressivo e pestanas grandes. Gosto de sorrisos. Não gosto de sorrisos falsos. Gosto do alcatruz. Não gosto que de repente toda a gente conheça o nosso cantinho cá da terra. Gosto do Tibete e do Dalai Lama. Gosto de yôga. Não gosto de invasões. Não gosto quando dou por mim a ser má pessoa. Gosto de mudar todos os dias. Não gosto de rotina. Gosto de começar um novo dia diferente. Gosto de crianças: da sua capacidade de serem inteiras. Gosto do Peter Zumthor, e do Siza. Gosto de reiki e de conseguir fazê-lo. Não gosto quando não dá certo. Gosto do mestre. Gosto de gente boa. Não gosto de desistir das pessoas. Gosto de estar perto. Gosto do Dr.Celso e da Lúcia. Gosto de saber que a nossa mente é capaz de tudo. Não gosto de ser esmagada nas discotecas. Não gosto de gente inconsequente, de gente grande que diz disparates sem pensar. Não gosto quando me magoam e não gosto de mentiras. Gosto de confiar e acreditar. Gosto de gostar e não gosto de não gostar. Gosto de ficar deitada no chão a ouvir música. E de acabar uma maquete que ficou boa. Gosto de ser surpreendida. De me surpreender. Gosto quando me fazem surpresas. E não gosto quando me fazem surpresas. Gosto de conhecer pessoas e os seus pensamentos. Gosto de mistérios e de me envolver. Gosto de descobertas e de aventuras- que é como diz o meu horoscopo. Gosto do horoscopo porque só diz coisas boas. Gosto do Pedro Granger porque ele não me liga nenhuma. Acabo de descobrir que não gosto quando me ligam demasiado. Gosto quando me “picam”. Gosto de não ser capaz de tirar os posters do Brad Pitt do armário com medo de crecer. Gosto de meias. Gosto das meias coloridas que a Jana me deu, e da maneira como ela pinta os dias às cores e às fadas. Gosto de abraços. Não gosto de palmadinhas nas costas. Não gosto de abelhas porque elas picam toda a gente sem razão. Gosto de borboletas e de cães, lá ao fundo. Gosto de amarelo. Gosto do Caetano. Gosto de gostar de todos os lugares. Do menino do rio. Não gosto do barulho das melgas e das moscas e das abelhas a aproximarem-se do ouvido: zzzzzZZ. Gosto do brasil e nunca lá fui. Gosto de N.Y. e também nunca lá fui. Gosto de rugas. Gosto das rugas nas fotografias a p&b. Gosto de ter boas notas mas não gosto de ser a melhor. Gosto que os outros tenham boas notas. Gosto de competição para avançar. Gosto de jogar e não gosto de perder. Gosto de comida vegetariana. E de ter deixado de comer carne há tantos anos. Gosto de me demorar quando gosto. Gosto do manahmanah. Não gosto que se chateiem comigo. Não gosto que me chateiem. Não gosto de ver o meu avô triste. E não gostava quando via os meus avós separados por uma cama de hospital, muito menos agora, pela morte. Gosto da vida. Gosto de viver. Gosto das cores dos dias. E do silêncio da noite. Do primeiro azul que traz a cidade na claridade. da estrela da manha. Gosto de brigadeiros. Não gosto de queijo, só o das pizzas e das tostas. Gosto de igrejas. Da imensidão. Não gosto de algumas coisas que alguns padres inventaram por cima da religião católica. Gosto de Jesus que está cá dentro. Gosto que a D. Maria passe a vida feliz, mesmo na solidão dos dias. Gosto da minha familia pequenina: gosto quando o meu pai diz disparates e nos rimos porque sim, gosto quando o meu irmão é irmão, quando a minha mãe não precisa dizer nada. Não gosto quando discutem, nem de pensar na inevitável separação a acontecer. Não gosto de cair em pensamentos mórbidos, mas acontecem: de me imaginar a cair quando estou la em cima de alguma coisa, ou outra pessoa qualquer, de imaginar a vida a ser morte ou de imaginar coisas a correrem mal. Gosto quando esses mesmos pensamentos são cómicos, quando imagino alguém a tropeçar, ou um político que de repente diz as verdades, um cão que fala ou uma beata pronta para a noite. Não gosto do conceito dinheiro. Gosto da paz. Gosto de tocar na loucura e reconhece-la proxima. Gosto da Maryland a cantar fado. e as outras musicas do seu reportório. Gosto de chocapic. Gosto de pessoas interessadas. Gosto de música. de surf. de correr para lugar nenhum.

Gosto que a palavra saudade só exista em português.

dias

hoje estou triste. comecei o dia por me lembrar da minha avó, a missa, o meu avô a chorar baixinho, o almoço com uma cadeira a mais. à tarde, visitas que me lembraram dela, como era boazinha e como queria ajudar o mundo e como eu morro de saudades do seu colo. não fico triste triste mas fico com uma vontade de um abraço que só podia ser dela, com vontade de a ver na cadeira que ainda a espera, fica um vazio de saudades que não acabam, só se adormecem nas lagrimas presas ao sono, e tenho ainda tanto trabalho pela frente antes de ir dormir. dias...

6.3.05

Malucooos

Hino Dos Malucos

Nós, os malucos, vamos lutar

Pra nesse estado continuar
Nunca sensatos nem condizentes
Mas parecemos supercontentes
Nossos neurônios são esquisitos
Por isso estamos sempre aflitos
Vamos incertos
Pelo caminho
Nos comportando estranhos no ninho
Quando a solução se encontra, um maluco é do contra
Mas se vai por lado errado, um maluco vai do lado

Malucos, a nossa vida é dar bandeira
ligando a luz da cabeceira,
se a água pinga na torneira
Malucos, a nossa luta é abstrata
já que afundamos a fragata,
mas temos medo de barata

Nós, os malucos, temos um lema
Tudo na vida é um problema
Mas nunca tente nos acalmar
Pois um maluco pode surtar
Os nossos planos são absurdos
Tipo gritar no ouvido dos surdos
Mas todo mundo que é genial
Nunca é descrito como normal
Quando o papo se esgota,
um maluco é poliglota
Mas se todo mundo grita,
um maluco se irrita

Malucos, somos iguais a diferença
e todos temos uma crença:
seguir a lei jamais compensa
Malucos, somos a mola desse mundo,
mas nunca iremos muito a fundo
nesse dilema tão profundo



Rita Lee/ Fernanda Young/ Alexandre Machado

5.3.05

quem sabe, sabe

"Há dois tipos de pessoas: as que fazem as coisas, e as que ficam com os louros. Procure ficar no primeiro grupo, há muito menos competição por lá."

Indira Ghandi

cores



independentemente do que vem
depois do túnel,
torná-lo colorido é a percepção
mais feliz da vida.

4.3.05

Marco Paulo, o Pensador

"Citemos Marco Paulo, em recente entrevista a uma revista popular: «O pimba veio abandalhar a música». Surpreendente afirmação, vinda de quem vem. Dir-se-á: mas quem é Marco Paulo para dizer semelhante coisa, ele que é o sumo pontíficie do pimba? Pois Marco Paulo disse-o precisamente por ser o sumo pontíficie do pimba. Estranhos tempos, estes em que vivemos.Na recente história da música popular portuguesa, Marco Paulo é um nome que se cumpriu, e cumpriu-se à custa de um cioso jogo de cintura, inimitável mas canónico, distante mas tão próximo, primário mas harmonioso. A sua história é heróica: vindo do Portugal profundo, subiu aos holofotes, foi romântico enquanto era preciso ser romântico (uma espécie de Tony de Matos das donas-de-casa dos anos 80), Herman consagrou-o (Serafim é nome de anjo e Saudade é nome de sentimento), a televisão deu-lhe um espaço nobre, Marco em si condensou uma luta cancerosa comum a tantos que nos são queridos e venceu-a, e hoje possui uma imagem impoluta. Ora, por causa disto tudo, que será heróico para quem o quiser, mas não certamente para outros, Marco Paulo dá-se ao direito de teorizar sobre o pimba. É, portanto, um discurso meta-pimba. Essa é a síntese fulcral do estado e significado da música pimba: auferiu a si mesma uma condição transcendental. Marco Paulo tornou-se num opinion-maker paradoxal. O pimba ataca o pimba, ou seja, o pimba tem uma opinião de não-pimba, colocando-se do lado dos que pensam, por oposição aos que desconfiam de quem pensa. Onde é que, afinal, está exactamente Marco Paulo? Ele está no meio de nós."


texto de João MacDonald, na revista 365


ps- ainda no mundo do fernando alvim encontrei um jogo interessante... em http://www.fernandoalvim.com/CarlosCastroInvaders.html

3.3.05

Piada Ribeirinha

"Trás-os-Montes diz ao Minho que vai chegar tarde, pois tem uma reunião.
Pergunta o Minho:
- Ok, mas tens Chaves?
- Claro- responde Tras-os-Montes - claro que tenho Chaves.
Não? "

estrada...


fotografia bruno espadana


-Estamos perdidos?
-Não. estamos só à procura do caminho certo!


...vida

2.3.05

os melhores amigos do mundo!


fotografia castelo de vide, 2004


... quando era pequenina, entre as coisas de criança, entre ser bailarina e policia, médica e pintora, bombeira e jornalista, queria ter uma profissão que ainda hoje não sei qual é: queria fazer um mundo melhor, como se na altura soubesse o que isso era, melhor que hoje, tão simples a simples forma de ser criança. acreditava que um dia ia conseguir ajudar os pobrezinhos todos, acho que porque me fazia uma confusão dos diabos "porque é que eles não iam levantar dinheiro, se aquela maquina dava sempre dinheiro a toda a gente!", sonhava com os meninos que estavam na guerra, sonhava que os levava a passar ferias a todos, ferias da guerra, porque estavam lá e não queriam e choravam e tinham fome (ainda têm, não os mesmos, talvez os filhos, dos mesmos), acreditava, não sei bem porquê, que um dia, um dia, ia conseguir ser alguém, alguém que ia ajudar, (sempre "me achei")! como se pudesse mudar o mundo com estas duas mãozinhas...
hoje continuo a acreditar nesse sonho "de criança". continuo a não saber qual é a profissão, mas começo a acreditar que se chama "ser" humano e que é trabalho a tempo inteiro. que se chama existir. como amigo, desconhecido, "inimigo", perto, longe, perto, perto, perto dos outros! hoje tenho dias em que consigo fazer o trabalho que sonhei a toda a hora. cresci, sei la como. devo-o, claro, pela força que (re)carrego nos seus sorrisos, como tantos outros sonhos e saltos, aos melhores amigos do mundo, os que tenho nos abraços que levo comigo em toda a parte. quando construo sonhos reais ou imaginários, quando sou útil e ser humano, quando sou pequenina à procura do que sonhei ainda mais pequenina, em toda a parte em todo o tempo. os melhores amigos do mundo!

um abraço para quem são, Pipa

ps- hoje sei, também, e também por voces, que um sorriso é muitas vezes mais importante que todo o dinheiro e tantas palavras, quando queremos ser assim, "humanos" a tempo inteiro...