18.12.05


"Eu olhava o rio e sentia a presença do rapaz ao meu lado, o som quase silencioso da sua respiração, as palavras incompreensíveis das águas. Nesse primeiro dia, não falámos. Conhecemo-nos. Um do outro, soubemos que existíamos. O céu também existia. O rio também. O céu era infinito quando, por acaso, olhávamos para ele. O rio era talvez uma vida a passar. Nesse primeiro dia, acreditámos que o rio era talvez uma vida a passar. Estávamos sentados um ao lado do outro. O rio levou a manhã consigo. Levantei-me e saí. Ele ficou. Não falámos. Ao sair, os meus passos na terra e o peso do seu olhar sobre mim."


José Luís Peixoto

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