21.7.07

o fado das indias

ontem descobri uma lisboa diferente lá para os lados da mouraria. é uma lisboa antiga aquela que está escondida por trás da desordenadamente ordenada mistura de culturas que lá existe hoje. ao subir as escadas da mouraria entra-se, inesperadamente, noutros países, noutras realidades. é fantástico perceber a forma de vida de culturas tão diferentes dentro das nossas paredes, dentro das casas que foram pensadas ainda para o habitante pombalino. ver as crianças com os traços indianos atropelarem-se em brincadeiras nas ruas que foram habitadas pelos fadistas dos outros tempos é sentir a adaptação do estilo de vida, a impressionante capacidade da mudança e da adaptação do ser humano. os diferentes modos de vida, as alterações no mercado de trabalho, os direitos, os cultos religiosos, as identidades. penso: a autenticidade da cultura é uma constante mudança, não há passado nem presente mas sim uma acumulação de vivências que começaram enraízadas a um lugar. o lugar é a raíz, cada pessoa que passa deixa a sua marca. os lisboetas de hoje são, em grande percentagem oriundos de outras culturas, imigrantes, o que, para muitos é um aspecto negativo, para outros é uma forma de aprendizagem imensa, onde se espera uma inversão do melhor de cada cultura, filtrada ao sabor das origens de cada lugar. talvez seja cruel a rápida irreversibilidade das transformações, e talvez seja uma questão eterna essa do medo da mudança, do medo do desenraízamento.
eu tenho orgulho na minha cidade: lisboa tem, em consequência da sua história, um centro histórico surpreendente e esta capacidade imensa de albergar tantas outras cidades histórias luzes memórias pessoas sons cheiros sensações por dentro dos seus recantos mais escondidos.
ir à mouraria é ir numa das muitas possiveis viagens à cidade desconhecida por dentro de lisboa.

7 comentários:

Anónimo disse...

Tenho muitas saudades dessa minha Lisboa. Estou em Londres a trabalhar há 2 anos, Lisboa tem uma luz única e inesquecivel.....

Joao disse...

Bela crónica Pipa... mas deixa-me só lembrar-te que a Mouraria é muito mais antiga do que o Marquês de Pombal, tão ou mais antiga até do que Portugal. Ganhou o nome quando D. Afonso Henriques guardou uma zona fora das muralhas do castelo para os mouros vencidos, para esses arcaicos portugueses de pele escura que fazem parte do nosso património genético e deram ao português médio a tez e a fisionomia que o distingue dos áureos europeus do norte onde tu foste sem dúvida buscar a maior parte da tua herança. Acho portanto simbólico que mais uma vez seja casa de outros povos longe de casa. E talvez o apelo da terra mãe lá longe tenha ficado entranhado nas vielas estreitas e, séculos mais tarde, tenha temperado e inspirado as mil expressões de saudade que povoam o fado...

pipa disse...

:) obrigada baby... eu estive numa parte da mouraria muito próxima da baixa, pareceu-me muito o estilo edificado pombalino... tenho muitas saudades tuas.

Anónimo disse...

"eu tenho orgulho na minha cidade"...?!

Tinha ficado com a ideia de que vivias na linha, o que me parece bastante longe de ser realmente Lisboeta como já afirmaste em tantos posts...

Em que ficamos? :)

pipa disse...

viver na linha não condiciona sentir-me lisboeta, porque nasci lá, porque passo lá a vida... mas principalmente porque adoro aquela cidade...
isso é preconceito linhense!!!! :P

Anónimo disse...

Preconceito Linhense!?

Viver em Lisboa e viver Lisboa é muito mais que visitá-la, mesmo que periodicamente...

Asseguro-te que há muitas outras "Mourarias" em Lisboa, que pode ser que um dia conheças...

:)

Anónimo disse...

sure, i know that... :)